O premiado cineasta Sérgio Machado, diretor de elenco de “Central do Brasil”, acaba de anunciar que vai produzir, no próximo ano, documentário sobre o convívio de Jorge Amado com outros três artistas: Dorival Caymmi, seu conterrâneo; Carybé, argentino, e, Pierre Verger, francês. Com eles, Jorge cultivou, durante cinquenta anos, o sentimento – o da amizade – que designava como “o sal da vida”, expressão que, agora, será usada no título do filme.
Aquele não foi, para Jorge, o único grupo de amigos originários de lugares diferentes. Na verdade, o autor do romance “Gabriela, Cravo e Canela” era um homem do mundo. Um ser de horizontes amplos. O que logo se torna evidente numa visita ao casarão secular do Largo do Pelourinho, em Salvador, onde está instalada a Fundação Casa de Jorge Amado. Ali, estão imagens das capas de seus livros traduzidos para cinquenta e duas línguas, de oitenta países, entre os quais Moldávia, Macedônia, e Turcomenistão. Juntos das capas, ficam expostas inúmeras fotografias feitas por Zélia Gattai, mulher e companheira de viagens de Jorge, nos quais o escritor aparece, em muitos países, alegre, feliz, por estar desfrutando da companhia de pessoas das quais ele gostava e que gostavam dele.
Numa seção à parte, há as inevitáveis fotos dedicada aos amigos baianos, natos ou adotados, muitos inseridos por Jorge em seus livros, como personagens: o próprio Dorival Caymmi, Mestre Pastinha, Camafeu de Oxossi, Mãe Menininha do Gantois, o rábula Cosme de Farias, o poeta de cordel Cuíca de Santo Amaro.
Contudo, a geográfica afetiva de Jorge era muito ampla, um autêntico Mapa Mundi do século XX, reproduzido em outras fotos, nas quais ele aparece abraçado, rindo ou conversando com artistas falantes de seu idioma materno, os brasileiros e portugueses Dias Gomes, Fernando Sabino, Antônio Maria, Cícero Dias, Cora Coralina, João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Moraes, Gilberto Freyre José Saramago, Ferreira de Castro, Fernando Namora.
Com artistas de línguas espanhola e italiana: Jorge Seprun, Gabriel Garcia Marques, Mario Vargas Llosa, Miguel Angel Astúrias, Isabel Allende, Pablo Neruda, Nicolas Guillen,Giuseppe Ungaretti. De língua francesa: Marcel Camus, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, François Sagan.
E os de outras línguas; o russo Ilya Ehremburg, os senegaleses Leopoldo Senghors, os turcos Nazim Hikmet, e, Erdal Öz (turcos), e, o americano Sidney Sheldon.
Brasileiro ligado profundamente a seu tempo (1912-2001), Jorge dizia retirar do amor que tinha pelas pessoas a energia com a qual escreveu quarenta e nove livros. Em contrapartida, ele foi também amado, não só no nome. Como mostram as multidões de leitores e de espectadores das adaptações de seus livros ao cinema, teatro, e, televisão.
(Ilustração: uma obra de Jorge Amado, entre dezenas traduzidas para línguas estrangeiras)