No início dos anos 2000, dois arquitetos se responsabilizavam pela preservação do acervo grande arquitetônico de Belém – um, Paulo Chaves, era secretário de Cultura, de um governador do PSDB; outro, Edmilson Rodrigues, comandava a administração petista da capital. Cujo espaço mais nobre, à época em que sediou o Gram-Pará, estado independente do Brasil, dentro do reino português estava, em boa parte, recuperado.
Isto poderia ser comprovado por quem se dirigisse ao Largo do Carmo, a partir da primeira edificação da cidade, o Forte do Presépio. Ou por quem, a partir daquele ponto, descesse a Rua Padre Champagnat, em direção do Largo do Palácio. Por toda aquela área se espalhavam obras mantidas em boas condições levantadas por construtores religiosos, desde a fundação de Belém, em 1616 – como a Igreja de Santo Alexandre, e, o Palácio do Arcebispo –, e, obras do século seguinte realizadas pelo brilhante arquiteto italiano Antonio Giuseppe Landi – como o Hospital Militar, e, o Palácio dos Governadores.
Paulo e Edmilson tinham estudado na mesma Faculdade de Arquitetura, a da UFPA. Não havia diálogo possível entre seus partidos, embora ambos atuassem no Centro Histórico.
Naquela boa fase, até o aterramento das fiações elétricas e telefônicas da primeira rua – a do Norte, hoje, Siqueira Mendes – chegou a ser cogitada. A prefeitura havia revitalizado o Mercado do Ver-o-Peso, e, recuperado as fachadas das lojas da mais importante via comercial da Belle Époque paraense, a Rua João Alfredo. Nela, reinstalou parte dos trilhos de uma antiga linha de bonde que, então, passou a ser usada por turistas.
Desgraçadamente, contudo, depois deste período, o acervo arquitetônico de Belém ficou entregue a gestores municipais que trouxeram um inquietante pesadelo a quem valoriza os bens da cultura amazônica. O descaso deles chegou a um ponto em que deixaram de se importar até mesmo com as reações constrangedoras dos turistas diante da exposição pública de fezes humanas: no Memorial e no coreto de uma das mais belas praças do País, a da República; na calçada do secular convento franciscano, e, inclusiva, nas gramas do Largo do Palácio, chamado assim, popularmente, porque diante dele fica o majestoso Palácio Antônio Lemos, sede da prefeitura. Portanto, da janela de seu gabinete os prefeitos daquela fase medonha avistaram, indiferentes, o estado lastimável da praça.
Agora, Edmilson, hoje, no PSOL, foi reeleito prefeito. Livrando os belenenses do partido dos políticos que infelicitaram a cidade deles nos últimos 16 anos. Do próprio governo do Pará, já tinham sido escorraçados, há dois anos.
O que se pode desejar, neste instante, se não que flores de muitos tipos floresçam em Belém, livres do sectarismo intolerante? Não foi isto que ensinaram, os chineses, no passado?
(Ilustração: Flores do Mangal das Garças, em Belém, em foto de Rafaela Coimbra)