Por razões mais do que óbvias até hoje ninguém pensou em fazer um Titanic 2 (calma que ainda há tempo), mas o diretor Sam Mendes – Beleza Americana – arriscou o que já deveriam ter arriscado antes: uma outra história de amor com o casal mais famoso dos cinemas em termos de cifra adocicada – Leonardo di Caprio e Kate Wislet, aliás, Sra. Mendes.
No filme “Apenas um sonho”, baseado no excelente livro “Revolutionary Road”, o diretor põe a prova o talento indiscutível destes dois astros numa história que seria a antítese de Titanic. No filme de Cameron, o casal interpretava dois apaixonados de classes sociais distintas que o amor aproximava e superava-se até mesmo diante de uma tragédia naval que chegava. No audiovisual de Mendes, a história muda de papel por completo. Nele, o naufrágio não é do navio e sim do próprio amor.
Pois é, meus caros sete leitores, esta palavrinha que anda tanto em desuso – a não ser nos discos do Zezé e em campanhas comerciais de dia dos namorados – naufraga em meio à tragédia de uma relação conturbada. O iceberg do Titanic de Mendes é a ambição cega e a vontade desenfreada de querer ser diferente de todos e por isto nos afastarmos o máximo possível de tudo aquilo que nos traga a felicidade por vezes até mesma revestida de rotina. Porém quem disse que a rotina é ruim? Ou melhor, quem disse que a rotina existe, senão em nossas pobres cabecinhas manipuladas?
Um jornalista da Discovery Chanel que vaga pelo mundo afora descobrindo povos, ideias e cultura pode se sentir entediado após um ano de viagens, tal qual uma dona de casa passando roupa. O problema não está no nosso tempo ou no que fazemos com ele, porém naquilo que buscamos e no quanto nos tornamos repetitivos. Reclamar o tempo todo não deixa de ser uma rotina – aliás, a pior delas?
A mídia é um cérebro gigante e burro que pensa por todos e age por ninguém. Alimenta a nós de sonhos impossíveis e corrói tudo aquilo que nos seria possível. A humanidade segue os padrões regidos por ela, pois tem preguiça de agir por conta própria e de fomentar seus próprios desejos.
Ela nos propõe que a felicidade está em viagens, em restaurantes caros, em roupas da moda, na fama fácil. Mas quem, de fato, é o dono da verdade neste jogo de gato e rato? Todos nós pensamos ser especiais e achamos que há um plano divino para nossa felicidade e com o tempo descobrimos – tardiamente – que não há plano algum para ser feliz. Basta ser feliz. A felicidade é imaginária e está tanto numa viagem para a Austrália quanto no perfume de uma simples rosa, o que varia são os pontos de vistas. T
Temos de viver ao máximo os bons momentos e como já fora mencionado no belo filme de Sean Penn – Natureza Selvagem – a felicidade real só existe quando é compartilhada. Portanto, meus caros sete leitores, amar ainda é a melhor forma de ser feliz e de se quebrar a rotina. Além de tudo é a mais barata e mais acessível, pois todos podem amar. Agora ser amado já é outra questão, aí requer talento, que todos temos, mas que esquecemos de exercitá-lo – enquanto ficamos pensando na rotina do dia a dia e deixamos passar despercebido um belo sorriso, um beijo de tirar o ar, uma noite de amor inesquecível e porque não planejar a cada dia um projeto novo para se viver do lado de quem ama.
Afinal, meus caros sete leitores, a graça da vida sempre esteve na viagem e não no destino da chegada. Life is journey not a destination! E o grande segredo é desviar-se dos icebergs que a vida nos põe com o intuito de afundar com nosso amor. Encontre sua cara metade, seja feliz e viva não apenas um sonho, mas sim o momento!
Maurício Nunes é autor do livro Sob a Luz do Cinestar e também mantém o site www.aerosilva.com