Com o risco da ameaça de tarifaço comprometer a campanha à reeleição, o governo saiu a campo e começou a sinalizar um cronograma gradual de aumento dos preços administrados para um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. A estratégia visa afastar o fantasma de que depois das eleições o governo promoverá um choque nos preços – medida impopular que poderia tirar votos da presidente na eleição de outubro.
O governo também quer dar mais previsibilidade para os reajustes e evitar que as expectativas de inflação sejam ainda mais contaminadas pelas incertezas em relação ao realinhamento dos preços – termo usado pelo Banco Central e os economistas de mercado para indicar o processo de correção da defasagem nas tarifas, que foi acentuado em 2013. Essas expectativas têm poder de influenciar a inflação corrente, porque os agentes econômicos se antecipam e remarcam os preços com medo do aumento do custos.
Na linha de frente dessa força-tarefa, o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, divulgou um calendário com o impacto na tarifa de energia das duas operações de crédito às distribuidoras de energia que somam R$ 17,8 bilhões. O cronograma prevê uma alta de 2,6% em 2015; 5,6% em 2016 e 1,4% em 2017. Os valores já levam em consideração o efeito positivo da renovação de concessões de usinas hidrelétricas. Sem essa renovação, o reajuste da energia seria de 25% durante os próximos três anos. Zimmermann deu entrevistas a rádios e jornais na tentativa de conter a proliferação de previsões de alta de energia que ganharam força nos últimos dias, em meio à campanha eleitoral.
Combustíveis
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também deu sinalizações importantes para o reajuste dos combustíveis, preço que foi segurado pelo governo para ajudar no controle da inflação. Presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Mantega afirmou que “todos os anos tem correção do preço da gasolina, uns mais, outros menos, mas todos os anos tem correção”.
Depois da indicação do ministro, ficou mais claro para o mercado que o governo vai reajustar a gasolina até o fim do ano, mas somente após as eleições. As ações da petrolífera subiram no rastro das declarações de Mantega. A última vez que houve reajuste de preços dos combustíveis foi em novembro do ano passado, quando a Petrobras foi autorizada aumentar em 4% a gasolina e em 8% o diesel, nas refinarias. Um dia antes, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Mantega já havia manifestado que não há necessidade de tarifaço em 2015. A própria presidente Dilma também sinalizou esta semana, a possibilidade de aumentar para 27,5% a mistura do etanol na gasolina, medida que poderá ajudar a conter a pressão de alta para o consumidor final.
O governo trabalha com um cenário gradual de realinhamento dos preços administrados e considera que boa parte do represamento que ocorreu em 2013 começou a ser diluído a partir de outubro do ano passado. A prova desse movimento, segundo um integrante da equipe econômica, é que a alta dos preços administrados, que desacelerou para 1,54% em 2013, já subiu para 4,63% em 12 meses até julho. “O ajuste está ocorrendo. No caso de energia elétrica está claro que não há represamento. As tarifas estão subindo. Tem empresa que foi autorizada a aumentar mais de 30%”, destacou a fonte. Em julho, o custo da energia residencial subiu 4,52% somente em julho e 9,73% no ano. Até o final do ano, o BC espera um reajuste total de 14% da conta de luz.
Mesmo com o cronograma divulgado, há ainda incertezas em relação ao impacto da entrada em funcionamento da chamada bandeira tarifária, a partir de janeiro de 2015. A bandeira é um mecanismo que repassa rapidamente para a tarifa o aumento do custo da energia. A bandeira vermelha, por exemplo, indica que as térmicas mais caras, movidas a diesel e óleo combustível, estão ligadas, o que adiciona um custo extra já na conta do mês seguinte.
Também há perspectiva de alta em relação a dois preços administrados que têm peso importante na inflação: água e ônibus paulistanos. As passagens de ônibus do município de São Paulo estão há dois anos congeladas e a tarifa de água deve aumentar no ano que vem, em função do problema de abastecimento.