O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, admitiu nesta terça-feira, 12, que a companhia está na disputa para a aquisição da usina norte-americana de Gallatin Steel, da siderúrgica brasileira Gerdau e da indiana ArcelorMittal, conforme noticiado pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, em julho.
A intenção da siderúrgica em ingressar no mercado norte-americano é antiga e, recentemente, a CSN perdeu a briga por duas usinas nos Estados Unidos do grupo russo Severstal. “Quem sabe chegou a nossa vez”, disse a jornalistas, após participar da abertura do Congresso do Aço,que acontece em São Paulo.
Essas, no entanto, não foram as primeiras investidas nos Estados Unidos. Em 2012 e 2013, a companhia participou de um longo processo para ficar com a usina do Alabama, da ThyssenKrupp, que acabou nas mãos do consórcio formado pela ArcelorMittal e pela Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation (NSSMC).
A Gallatin Steel, localizada em Kentucky, produz cerca de 6 milhões de toneladas anuais de bobinas a quente, de acordo com informações que constam no site da siderúrgica. Se concluída, essa aquisição será grande em termos de aumentar a produção atual da CSN.
No Brasil, a CSN produziu 4,5 milhões de toneladas de aço bruto em 2013 e está hoje no limite da capacidade instalada. Tradicionalmente no segmento de aços planos, a empresa também ingressa no setor de aços longos, mercado hoje dividido entre Gerdau e ArcelorMittal.
Namisa
Steinbruch disse também que as conversas com os sócios asiáticos da companhia na mina Namisa estão caminhando e que até setembro deverá haver um desfecho. A companhia presidida por Steinbruch possui 60% da Namisa e o grupo dono da participação restante é liderado pela trader japonesa Itochu, mais as siderúrgicas japonesas JFE Steel, Kobe Steel e Nisshin Steel, a sul-coreana Posco e a taiwanesa China Steel. Os sócios estão em intensas discussões em torno do investimento desde o início do segundo semestre do ano passado. “O mercado não precisa ficar preocupado sobre Namisa. É um bom ativo; se ficar com a fusão é ótimo e se não ficar também”, disse, se referindo à permanência dos sócios no negócio.
Em 2008, quando vendeu a fatia da mina, a CSN recebeu do consórcio asiático US$ 3,08 bilhões por 40% da Namisa. No acordo firmado na época, estava prevista a possibilidade de o consórcio exercer a opção de venda (put), que pode ser usada caso sejam descumpridas determinadas obrigações. O prazo para essa opção terminou em julho do ano passado, mas vem sendo estendido desde então. Se a parceria for desfeita, a CSN terá que devolver o valor pago pelo consórcio corrigido.
O executivo afirmou que a companhia está trabalhando para unir os ativos de mineração e logística da empresa, sob uma mesma companhia, e que esse movimento poderá ocorrer ainda este ano. Esse objetivo é um dos pontos que estão na pauta para discussão com os sócios da Namisa.
Mercado interno
Se de um lado a CSN briga para entrar no mercado norte-americano, no Brasil a companhia tenta driblar o cenário de baixo crescimento do País. Hoje, Steinbruch disse que uma das alternativas analisadas é aumentar o direcionamento de aço produzido no Brasil para o mercado externo, mas que a tarefa fica mais difícil diante do atual taxa de câmbio. “O real está muito valorizado.”
Para exportarmos, precisaríamos ter uma moeda mais atualizada. A exportação é uma alternativa para não parar”, disse, admitindo que significa uma margem menor, mas evita corte na produção. A utilização da capacidade instalada da empresa está hoje plena, segundo Steinbruch. A necessidade de exportação está limitada para a CSN em relação ao aço plano, já que em longos a companhia ainda começa no mercado.
Em relação à possibilidade de corte de preço do aço no mercado interno, o executivo disse que “espera não haver necessidade de corte de preços”, já que as margens estão pressionadas. “Quando se tem um mercado difícil, a primeira coisa que se faz é reduzir preços, mas isso tem um limite. Tem que ter mercado”, completou.
“Está difícil para todo mundo, mas temos chance de melhorar. É preciso tomar algumas medidas rapidamente. Precisamos ter um modelo de consumo continuando e gastos em infraestrutura e novos projetos. O consumo nos manteve até agora e é preciso mantê-lo de qualquer jeito”, disse o executivo. “Se mantém consumo, mantém produção e mantém emprego”, disse. Steinbruch falou, ainda, que se o governo focar apenas em controlar a inflação, haverá, de fato, recessão no País. “Ninguém quer inflação, o governo tem medo da inflação, porque ela derruba qualquer perspectiva de reeleição do governo federal”, completou.
Sobre o negócio de mineração da CSN, o executivo disse que o setor, ao depender mais do exterior, segue bem. “A China está performando mais do que todo mundo”, diz. “A China está fazendo até melhor do que a gente esperava.”
Sobre os programas de recompra de ações da CSN, Steinbruch disse que a companhia tem a percepção de que os papéis estão abaixo do valor justo.