A China virou um caso de amor e ódio entre as empresas brasileiras. Enquanto a gaúcha TMSA, fabricante de máquinas e equipamentos, sofre com o avanço do produto chinês no Brasil e tenta se reinventar, o empresário paulista Renato Goulart comemora os resultados dos negócios com o país asiático.
Há dois anos, Goulart abandonou a fábrica de bolsas e mochilas na capital paulista para se aventurar no ramo de importação. Entregou a confecção para a mulher Kamila Soares administrar e está feliz da vida com a decisão. “A mão de obra no Brasil é muito cara e o custo de produção elevado”, diz Goulart.
Embora atendam nichos diferentes do mercado promocional, os dois viraram concorrentes, pelo menos, na discussão sobre o melhor produto e melhor custo. Segundo Goulart, para entregar a mesma quantidade de peças, a fábrica de sua mulher demora entre 20 e 25 dias, enquanto a empresa dele precisa de apenas 72 horas. Foi essa agilidade que fez o empresário abandonar a produção nacional e investir na importação. “Na China, consegui encontrar um produto com qualidade melhor, custo mais baixo e ainda me livrei do problema da mão de obra.”
Kamila defende a qualidade de seu trabalho. “O diferencial é que o cliente pode customizar o pedido.” Ela reclama, entretanto, da pesada carga tributária, da escassez de mão de obra e da elevada informalidade no setor. “Sofremos uma concorrência desleal com oficinas informais que funcionam em fundo de quintal, sem pagar nenhum tipo de imposto.”
Na oficina de 300 metros quadrados, Kamila emprega 15 funcionários e produz cerca de 5 mil peças por mês, cujo preço médio é R$ 90 a unidade. Goulart tem um galpão de 980 metros quadrados, apenas seis funcionários e importa por ano 30 mil unidades, que comercializa no Brasil por um preço médio de R$ 110. A meta para o ano que vem é elevar essa quantidade para 60 mil peças. Por isso, nesta semana ele embarca para mais uma viagem de negócios na China. Serão 14 dias em busca de novas oportunidades.
Enquanto Goulart caça novos produtos para trazer ao Brasil, a empresa TMSA tem sido atormentada pela invasão chinesa. Nos 48 anos de existência, a companhia já mudou, pelo menos, quatro vezes de atividade para se manter viva. Começou produzindo equipamentos para moinhos de trigo em 1966, entrou na área de sistemas de armazenagem, migrou para terminais portuários, estreou em mineração e agora aposta no setor de energia, óleo e gás.
Atualmente, a carteira de negócios da empresa não tem nenhum pedido para a indústria de trigo e o de armazenagem diminuiu sensivelmente, diz o diretor-superintendente da companhia, Mathias Elter. Segundo ele, o segmento de mineração também não vai bem. “Acabamos de perder um negócio para os chineses. A proposta deles foi 20% menor que a nossa.”
Elter diz que, há dois anos, 80% do faturamento da empresa vinha da indústria de mineração. “Hoje, os negócios com o setor estão zerados e a companhia busca novas alternativas para substituir a área.” O problema, afirma o executivo, é que toda vez que se entra num novo mercado há uma fase de aprendizagem na qual a empresa só perde dinheiro.
Na avaliação de Elter, a origem de todo problema é a escalada do custo Brasil. “Mesmo tendo algumas medidas de apoio, como a desoneração da folha de pagamento, o câmbio continua punindo as empresas.” No passado, quando o dólar estava na casa de R$ 3,30, a empresa exportava até para os Estados Unidos.
Na empresa de calçados Piccadilly, a concorrência com a China tem sido superada com estratégias diferenciadas para reforçar a marca no exterior. “Alguns clientes querem abrir lojas da Piccadilly em seus países, o que dificilmente ocorreria com uma marca de sapato chinês”, diz a diretora de exportação da empresa, Michelline Grings, destacando que a China faz cópia de sapatos da marca.
Segundo ela, a estratégia é oferecer um produto diferenciado já que não dá para concorrer com a China em volume. “A cada 20 contêineres comprados da China, o mercado compra um da gente. Por isso, o importante é focar na marca.” Michelline diz que, apesar dos bons resultados, a empresa também sofre com o elevado custo Brasil. Hoje a exportação da empresa está em 25%, mas já chegou a 35% em 2008. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.