Com uma história que remonta à Idade Média, a Suíça se transformou ao longo dos séculos em um dos principais centros financeiros do mundo. A decisão de um bispo em 1387 de permitir a cobrança de juros em empréstimos e, mais tarde, a lei do governo de Genebra em 1713 de proibir que bancos declarem quem são seus clientes fez a praça financeira alpina prosperar. Séculos depois, a neutralidade política permitiu atrair o dinheiro de todos, sem restrições ideológicas e religiosas.
Hoje, a Suíça controla um terço das fortunas do mundo e a estimativa é de que US$ 7 trilhões estejam depositados nas contas secretas, o equivalente a três vezes a economia do Brasil. Mas a Suíça vive hoje uma pequena revolução. Bancos estrangeiros que por décadas usavam a Suíça como base deixaram o país. No total, a Suíça tinha 162 bancos estrangeiros em 2009. Cinco anos depois, o número caiu para apenas 121, com tradicionais instituições como Lloyds, ABN Amro, Santander e ING fechando suas portas.
Bancos como o Leumi, de Israel, o Espírito Santo e mesmo o Standard Chartered indicaram que estariam deixando os Alpes. No caso do Leumi, o banco foi um dos 14 investigados pelos EUA por usar sua filial na Suíça para ajudar clientes americanos a escapar do Fisco.
O país também registrou uma fuga sem precedentes de capital. Em seis anos, a PriceWaterhouseCoopers AG estima que US$ 383 bilhões deixaram as contas secretas na Suíça diante da pressão de governos estrangeiros aos paraísos fiscais.
No total, estrangeiros retiraram de suas contas suíças cerca de US$ 110 bilhões. Parte do dinheiro foi usada para pagar multas aplicadas por seus governos por não terem declarado suas fortunas. Outros US$ 250 bilhões foram ainda repatriados ou transferidos pelos bancos para outros centros financeiros.
“O setor bancário suíço enfrenta um enorme desafio desde 2008”, disse a consultoria. Nos EUA, bancos suíços estão sendo investigados por ajudar clientes americanos a escapar do Fisco. Pelo menos cem banqueiros suíços fecharam acordos com a Justiça americana para cooperar nas investigações e evitar processos. Situação parecida ainda é registrada nas relações da Suíça com a França, Alemanha, Reino Unido e Itália.
Não menos importante foi a crise que atingiu a Europa desde 2008. Entre o ano do colapso do Lehman Brothers e 2012, 20 mil agências de bancos europeus fecharam. Em 2013, os maiores bancos europeus fecharam outras 5,3 mil agências. Só na Espanha foram quase 3 mil. Na Suíça, isso se refletiu em um enxugamento das instituições, inclusive com a venda de operações consideradas deficitárias.
Emergentes
Entre os banqueiros suíços, não é segredo que a esperança de muitos é de que os bancos de países emergentes possam substituir parte das instituições tradicionais. E o Brasil lidera esse movimento.
Em 2011, o Grupo Safra comprou o banco Sarasin por mais de US$ 1,1 bilhão. Em abril deste ano, os banqueiros brasileiros ainda fecharam um acordo para controlar as operações de private banking do Morgan Stanley. No pacote, ficaram com ativos de mais de US$ 11 bilhões de cerca de 130 clientes em Zurique e Genebra. O Morgan Stanley optou por se desfazer de sua operação por pressão do governo dos EUA. O Safra disse que não assumiria os clientes americanos.
Em julho, foi a vez de o BTG Pactual assumir o BSI private banking por US$ 1,7 bilhão. Naquele momento, Andre Esteves deixou clara a aposta do banco brasileiro no mercado suíço. E o BSI estava na lista de bancos que, no esforço de reduzir uma eventual multa do governo americano por ajudar clientes a evadir o Fisco, decidiu colaborar com Washington.
O avanço não se limita aos brasileiros. Os bancos árabes promovem uma expansão e já são nove as instituições do Oriente Médio na Suíça. Outro movimento de grande impacto é pelo interesse das autoridades chinesas. Mas, nesse caso, o objetivo é bem mais ambicioso. A Suíça e os bancos locais querem atrair não apenas bancos chineses, mas permitir que o yuan possa ser comercializado por bancos ocidentais. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.