Em um debate bastante acalorado, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, defendeu o governo de ataques de economistas ligados aos candidatos da oposição. A troca de farpas chegou ao ponto de se questionar o “rigor científico” de um dos especialistas ligados aos adversários da presidente Dilma Rousseff e provocou reações emocionadas da plateia, composta por empresários e empreendedores. O evento sobre cenários pós-eleição ocorreu na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), promovido pela Firjan em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o jornal Valor Econômico.
“Samuel Pessôa já teve mais rigor científico”, ironizou Holland, sentado ao lado do economista da FGV, que é um dos assessores da campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência. O professor da FGV havia apresentado um cálculo da média de crescimento do Brasil no governo Dilma (de 1,5% a 1,7%) e Lula (4%). A desaceleração de quase 2,5 pontos porcentuais, segundo ele, era mais intensa do que o observado na América Latina e no Mundo.
“Três países – Peru, Chile e Colômbia – , representam 38% do PIB nominal brasileiro”, citou Holland, criticando o tipo de comparação utilizada por Pessôa. Segundo o secretário, o mercado brasileiro sentiu mais intensamente a volatilidade internacional justamente porque o volume de capitais estrangeiros no País é maior, assim como o tamanho o mercado de crédito e de investimento. Ele afirmou se basear em relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na réplica, Pessôa disse “discordar absolutamente” do relatório citado por Holland. Ele também partiu para o ataque. “Quando se adjetiva muito o texto é porque se está em maus lençóis”, disse, em menção direta ao secretário. Ao dizer isso, Pessôa foi muito aplaudido no auditório da Firjan.
Na saída, questionado sobre a reação da plateia, Holland desconversou, sorriu e evitou tecer comentários.
No evento, o secretário também criticou a apresentação do professor do Insper Marco Bonomo, que assessora a campanha de Marina Silva (PSB). Bonomo defendeu a autonomia formal do Banco Central, argumentando que isso garantirá a proteção dos formuladores da política monetária contra interesses políticos. Por outro lado, continuaria sendo o governo quem definiria as metas a serem perseguidas pelo Banco Central.
“É uma apresentação ingênua sobre prós e contras”, criticou Holland. “Não é necessariamente a discussão sobre a independência que faz o Banco Central mais eficiente”, acrescentou.
Mais tarde, ainda na mesa de debates, Bonomo se disse “descontente” com o tom usado pelo secretário do governo. Mas também teceu as próprias críticas e disse não reconhecer o Brasil nas descrições de Holland. “Será que ele não fica constrangido com esse tipo de programa?”, questionou Bonomo, em referência ao programa eleitoral de Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição. Os programas foram alvo de ataques do candidato Aécio Neves por, segundo o político, mostrar uma realidade que não existe no País.
“Acho que eu estava bastante errado, pois inclusive (Holland) está utilizando diversas técnicas usadas no programa eleitoral”, ironizou o professor do Insper.