O próximo governo precisará combater a desindustrialização no Brasil para tornar o País mais competitivo no cenário externo, segundo os embaixadores José Viegas Filho e Samuel Pinheiro Guimarães Neto. Em teleconferência promovida pela consultoria GO Associados, Viegas ressaltou que, ao avaliar as diretrizes de política externa dos três principais candidatos à Presidência – Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) – ele não encontrou menção a esse problema ou à questão da defasagem cambial.
“Não vi a palavra desindustrialização em nenhuma das três diretrizes, mas hoje confirmamos que existe uma desindustrialização no Brasil”, afirmou. Segundo ele, o fato de as empresas exportarem cada vez mais commodities e cada vez menos produtos industrializados prejudica a competitividade do País.
Viegas, que foi também ministro da Defesa no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003 e 2004, afirmou que uma das principais causas do problema é a deficiência do País no setor da infraestrutura – o que onera as exportações -, assim como o baixo nível de execução de obras nesse setor. “Precisamos acelerar o gasto em infraestrutura para o Brasil voltar a ser competitivo”, disse, apontando que isso será tarefa do próximo governo.
O embaixador destacou ainda que a defasagem cambial é um problema que também não foi considerado nas diretrizes de governo dos candidatos. “Temos um câmbio artificialmente valorizado que está nos desgastando há vários anos”, disse. Segundo ele, o formato atual de política do Banco Central envolve uma perda de capacidade de administração política do câmbio. “É preciso mudar a política cambial.”
Já Guimarães Neto destacou a necessidade de o Brasil diversificar suas exportações. “Só somos altamente competitivos na área agrícola, é preciso diversificar na área industrial”, afirmou.
Mercosul
Em relação a novos e mais profundos acordos bilaterais do Brasil, Guimarães Neto avaliou que eles precisam ser negociados juntamente com o Mercosul e que existe a necessidade de consenso. O embaixador afirmou que tem ouvido pedidos para que o Brasil aumente acordos bilaterais com independência, mas criticou a ideia. “Isso é complicado porque significa não obedecer ao princípio básico do Mercosul”, disse.
Segundo ele, para aprimorar o bloco comercial, é necessária uma participação mais ativa dos presidentes dos países que compõem o Mercosul. Viegas também ressaltou essa necessidade. “O Mercosul não passa por seu melhor momento, até mesmo pela crise internacional”, disse Viegas. “No próximo governo, precisaremos ter uma série de reuniões presidenciais para discutir o futuro do Mercosul e a expansão das políticas de integração.”