Em plena crise de energia, duas usinas do Rio Teles Pires, em etapa final de construção na divisa do Mato Grosso com o Pará, correm o risco de reviver o mesmo drama enfrentado nos empreendimentos do Rio Madeira, em Rondônia: o descolamento dos cronogramas previstos para as hidrelétricas e suas respectivas linhas de transmissão.
Até meados de janeiro de 2015, a Usina de Teles Pires, de 1.820 megawatts (MW) de potência, deve estar pronta para colocar a sua primeira turbina em operação. O consórcio responsável pela hidrelétrica pediu a licença de operação ao Ibama em julho, que deve ser liberada em breve. A partir daí, bastará encher o reservatório e Teles Pires estará pronta para gerar energia. A questão é como injetar essa energia no sistema nacional.
Até janeiro de 2015, deveria estar pronta uma rede de transmissão de 1.005 quilômetros de extensão, entre os municípios de Paranaíta e Ribeirãozinho, no Mato Grosso. Mas a obra atrasou. Hoje, na melhor das hipóteses, essa linha só estará disponível em meados de abril, segundo relatório de acompanhamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O descompasso entre usinas e linhas tem consequências graves. Primeiro, porque produz um prejuízo imediato, uma vez que o governo é obrigado a remunerar o dono da usina porque ele honrou o compromisso de gerar de energia naquela data. Segundo, porque afeta o planejamento do setor elétrico na distribuição de energia, em um momento em que o acionamento de usinas térmicas continua a pleno vapor.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico informou que o “eventual atraso” das linhas de transmissão não deverá gerar problemas “em condições normais de operação do setor”. Além das hidrelétricas Teles Pires e Colíder, o complexo do Rio Teles Pires abriga outras três usinas em etapas iniciais de construção: São Manoel (700 MW), Foz de Apiacás (230 MW) e Sinop (400 MW). O complexo do Teles Pires tem o tamanho equivalente ao da Usina de Jirau, em Rondônia, com potencial de atender 5,4 milhões de casas, lojas e fábricas.
A linha de transmissão também é importante para outra usina em via de ser concluída no Teles Pires, a Hidrelétrica de Colíder, de 300 MW, prevista para entrar em operação a partir de junho, segundo dados mais atuais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Chuvas
O consórcio Matrinchã Transmissora de Energia (TP Norte), formado pela estatal paranaense Copel e a chinesa State Grid (SGCC), recorre a argumentos comuns ao setor elétrico para justificar o atraso. “Tivemos problemas institucionais, como demora nas licenças ambientais. Esse é um projeto desafiador, realizado numa região inóspita. Além disso, enfrentamos a pior chuva dos últimos 20 anos nessa região”, diz Francisco Roberto Hopker, diretor técnico da Matrinchã.
O consórcio já apresentou seus argumentos à Aneel e ao Ministério de Minas e Energia, que acompanham com lupa o andamento das obras. Apesar do atraso, Hopker afirma que “o consórcio tem feitos todos os esforços possíveis” para eliminar o descompasso.
A linha de transmissão fará parte do chamado Sistema Interligado Nacional (SIN), rede que hoje soma mais de 105 mil quilômetros de malha em todo o País. No ano passado, a Usina Santo Antônio, em Porto Velho, chegou a escoar energia de suas primeiras turbinas por uma rede local de distribuição, porque o linhão do Madeira estava atrasado. A demora atingiu um ano. A entrega de energia do Rio Teles Pires vai se apoiar ainda em outra linha de 624 km de extensão, que também deveria ser concluída em janeiro de 2015, mas já teve seu prazo de conclusão adiado para abril. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.