A primeira fábrica de carros de luxo da nova leva de investimentos nesse segmento no Brasil inaugurou oficialmente suas operações na quinta-feira,09, em Araquari, Santa Catarina, resultado de um investimento de 200 milhões de euros, cerca de R$ 600 milhões pela cotação atual. As instalações da alemã BMW estão ainda incompletas, apenas com a linha de montagem que agrega componentes trazidos em grande parte da Alemanha.
Áreas como as de carroceria e pintura só serão concluídas ao longo do próximo ano, quando também entrarão em produção outros quatro modelos da marca. O 320i (versão do Série 3) inaugura a linha de montagem e depois virão, na sequência, X1, Série 1, X3e Mini Countryman. Entre os poucos componentes locais que estão sendo fornecidos para a fábrica estão bancos, da Lear, e a montagem do sistema de motor, transmissão e suspensão, feitos pela Bentler.
O preço do modelo nacional não deve ser, por enquanto, inferior ao da versão importada, vendida a R$ 134,9 mil, informa Arturo Piñero, presidente da BMW do Brasil. “Já somos beneficiados pela redução do IPI dentro do Inovar Auto”, justifica o executivo, referindo-se ao desconto de 30 pontos porcentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados para marcas que estão investindo na produção local. O modelo nacional também deixa de recolher 35% de Imposto de Importação, mas a explicação do setor costuma ser a de que é preciso recuperar parte dos investimentos realizados.
Mercado
A inauguração da fábrica da BMW, a primeira do grupo na América do Sul, ocorre num momento em que o mercado brasileiro de veículos está em queda, inclusive no segmento de carros de luxo, que até meados do ano ainda mostrava forte fôlego. “Lamentavelmente, o mercado premium não vai crescer do jeito que vinha crescendo; ainda vai crescer neste ano e no próximo, mas não com o mesmo dinamismo”, diz Piñero.
Até junho, as vendas das três principais marcas de carros de luxo que estão construindo fábricas no País – BMW, Audi e Mercedes-Benz – cresciam a um ritmo de 40% em relação a 2013, e hoje essa evolução está na casa dos 20%, ainda assim muito acima do mercado de automóveis e comerciais leves como um todo, que está caindo 9% na comparação com o mesmo período do ano passado.
As marcas premium trabalhavam com a expectativa de vendas de 100 mil unidades em 2017, mas esse volume está sendo revisto, segundo Piñero, em razão da atual situação do mercado brasileiro.
“A economia não está se expandindo e há uma grande incerteza entre os consumidores”, diz o executivo, que espera por uma pequena melhora após as eleições presidenciais. Ele lembra, ainda, que o investimento do grupo é para o longo prazo e que sempre haverá momentos de expansão e contração da economia.
Arturo Piñero prevê para este ano vendas de cerca de 49 mil a 50 mil veículos de luxo no País, ante 45 mil em 2013, incluindo números da Land Rover, que também terá uma fábrica brasileira, e das marcas de super luxo, como Ferrari. Até setembro, os licenciamentos da BMW somam 10.714 unidades, 3% a mais que no ano passado, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Produção
A fábrica terá capacidade para 32 mil veículos ao ano, mas, em 2015 devem ser produzidos no máximo de 12 mil a 15 mil, diz Gleide Souza, diretora de relações governamentais. Entre 2018 e 2020 toda a produção será destinada ao mercado brasileiro, mas o grupo conta com medidas que possam melhorar a competitividade do carro nacional para iniciar exportações ao menos para a América do Sul. A unidade emprega atualmente 500 funcionários e pretende chegar a 1,3 mil até 2016.
Em seu discurso na cerimônia de inauguração, o presidente da BMW para as Américas, Ludwig Willisch, afirmou que a América do Sul é estratégica para o grupo, que também está abrindo fábricas no México e na China. “A fábrica sela nosso compromisso com o mercado brasileiro e nosso apoio ao País.” O projeto foi anunciado em outubro de 2012 e a fábrica foi construída em dez meses.
Também em seu discurso, o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, aproveitou para mandar um recado aos críticos da atual política econômica. “Uma empresa como a BMW não investiria em um país que estivesse à beira de um colapso. Não estamos à beira de um colapso, mas à beira de um novo ciclo de expansão.” Ele creditou ao programa Inovar Auto – lançado em outubro de 2012 e que dá incentivos à produção local e taxação maior aos carros importados – a decisão de vários fabricantes de se instalarem no País.
Mas Gerald Degen, vice presidente responsável pela fábrica, citou a burocracia que é abrir uma empresa no Brasil. “Inicialmente, foram pedidas 50 licenças que depois se transformaram em 150”, brincou. Entre os órgãos que tiveram de ser consultados para dar aval ao projeto ele citou, por exemplo, o Ibama, a Funai e o BNDES. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.