Cidades

Expectativa de vida de quem?

As mulheres brasileiras podem viver até 7,6 anos mais que os homens. E um cidadão que vive em Brasília pode atingir os 71,9 anos de idade, contra 66,4 anos de um alagoano.


Esses dados curiosos foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em uma pesquisa sobre a expectativa de vida dos brasileiros. Na média, se constatou em 2007 uma idade média de 72,3 anos para nossa população, um aumento de quatro meses em relação aos dados de 2006.


Essa numeralha apenas confirma alguns contrastes no cenário nacional para o futuro. Vejamos: o brasileiro que nasceu este ano vai viver um pouquinho a mais que o amiguinho que veio ao mundo no ano passado, segundo os dados do IBGE. E a tendência é de que em algum tempo essas pessoas ganhem mais velinhas ainda no bolo de aniversário, um acréscimo motivado sobretudo pelos avanços da Medicina e pela melhoria da situação social e econômica do País.


Para quem não acredita no impacto dessas transformações, basta olhar para o passado. Há 37 anos, a expectativa de vida um brasileiro era de apenas 54,6 anos de idade – 17 anos e oito meses a menos do que a taxa média atual. Esse aumento foi conseqüência de maior acesso a alimentos, água potável, redes de esgoto, campanhas de vacinação e remédios mais potentes.


No futuro, sabe-se lá quanto tempo uma pessoa poderá viver. Pesquisadores afirmam que em 2050 o Brasil terá cerca de 14 milhões de pessoas com mais de 80 anos, contra os 2 milhões de 2007. Haja dinheiro público e privado para pagar aposentadorias e custear despesas médicas.


O impacto também deve se estender aos bolsos dos contribuintes. Para quem não sabe, vale um aviso: o valor da aposentadoria é calculado de acordo com a expectativa de vida da população. Se ela aumenta, com certeza a pensão paga pelo Poder Público diminui. Dessa forma, vale investir na aposentadoria privada ou, se você for disciplinado, começar a poupar dinheiro por conta própria.


Outro dado importante, e que merece atenção das autoridades, é a disparidade entre o tempo de vida dos brasileiros, dependendo da região onde se vive. É inaceitável que um brasiliense tenha em média 8,8 anos a mais que um alagoano. Essa distância tem que ser reduzida drasticamente, junto com um aumento da expectativa de vida do cidadão da Capital Federal.


Da mesma forma, o Brasil também precisa melhorar sua posição mundial nesse ranking. Segundo um relatório da CIA (agência de inteligência dos EUA), nosso país ocupa a 114ª colocação em um ranking da expectativa de vida, atrás de vizinhos como Colômbia e Venezuela. Na liderança, estão Andorra (83,5 anos), Macau (82,3) e Japão (82 anos). A disparidade aqui é ainda maior quando se comparam as taxas de países industrializados com nações pobres. Em Angola, a expectativa é de apenas 37,6 anos, cinco a mais que a lanterna Suazilândia, com 32,2 anos.


Esses dados são pequenas amostras das desigualdades econômicas e sociais no mundo moderno. Em pleno século XXI, não se pode permitir que pessoas de um país vivam até 50 anos mais que em outras localidades. Assim como é inadmissível uma diferença de quase nove anos entre os cidadãos de um mesmo país. Esse tipo de desequilíbrio pode gerar conflitos nas gerações futuras. E até lá se pode não encontrar explicação convincente para explicar o inexplicável a quem quiser compreender o que a cada dia parece mais incompreensível.


* Milton Dallari é consultor empresarial, engenheiro, advogado e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp. O e-mail para contato é o [email protected].

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