Quando o assunto é a intenção de compra do brasileiro, nenhum aparelho concorre hoje com o smartphone. E a emergência dos smartphones de preços intermediários é vista como o catalisador dessa realidade: à medida que produtos mais bem acabados chegam ao mercado por um valor que uma fatia maior da população pode pagar, mais gente vai investir no smartphone como substituto de outros sonhos de consumo, como laptops e tablets.
A aposta de empresas de consultoria como IDC e GfK é que a briga agora vai se concentrar no consumidor que está disposto a gastar entre R$ 400 e R$ 700 em um telefone inteligente. Pode parecer que as empresas estão dando um tiro no pé ao apostar em aparelhos de preço médio, mas os analistas explicam que a intenção é atrair clientes que, normalmente, começariam com um produto bem mais barato – hoje, há aparelhos vendidos abaixo de R$ 200 no mercado nacional.
Embora os números recentes mostrem a demanda mais aquecida para aparelhos de até R$ 1.000, esse patamar de valor deve cair até o fim do ano. Para Oliver Römerscheidt, diretor da área de varejo e tecnologia da GfK Brasil, lançamentos de preço mais em conta de fabricantes como Nokia, Motorola, LG, Samsung e Sony devem reforçar essa tendência. “Acho que, no Brasil, um gasto de até R$ 700 por um aparelho que, na maioria das vezes, vai ser jogado fora depois de dois anos, é algo razoável.”
Degraus acima
Do ano passado para cá, dados da GfK mostram que a participação do smartphone no faturamento dos produtos de tecnologia no Brasil subiu dez pontos porcentuais, passando de 28% a 38%. No mesmo período, o único outro produto a crescer foi o tablet, de 5% para 6%, e as TVs de tela plana, que foram beneficiadas pelo efeito sazonal da Copa do Mundo.
Como acontece com diversos tipos de produto, o brasileiro também está passando por uma fase de sofisticação do consumo de smartphones, na avaliação o analista de mercado da IDC Brasil, Leonardo Munin. Segundo dados da consultoria, 97% dos brasileiros querem manter ou aumentar a quantidade de funções de seu smartphone na próxima compra. No entanto, há uma parcela da clientela que vai avaliar se precisa realmente de um topo de linha. “Isso acontece porque os celulares que custam cerca de R$ 800 melhoraram bastante”, explica Munin.
Alto padrão
Para analistas, embora o mercado brasileiro vá se concentrar principalmente em aparelhos médios, o segmento de alto padrão, simbolizado no Brasil por produtos que custam mais de R$ 1.000, não vai desaparecer. A opinião geral é que existe uma parcela da população disposta a pagar mais para um produto que tenha um caráter de exclusividade. Neste caso, afirma o analista sênior da Gartner, Tuong Nguyen, a Samsung e a Apple levam vantagem sobre as demais fabricantes. “A Samsung tem uma maior opção de escolhas para aparelhos mais sofisticados, enquanto a Apple tem a melhor imagem de marca desse mercado.”
A busca por diferenciação no hardware, no entanto, vai ficar cada vez mais difícil. Isso porque os aparelhos estão ficando cada vez mais parecidos – no Brasil, por exemplo, cerca de 90% dos 13,3 milhões de unidades vendidas no segundo trimestre, aponta a IDC, eram da plataforma Android, do Google.
“As empresas não vão mais se diferenciar só pelo aparelho”, diz Munin. “Agora, terão de inovar em aplicações que facilitem a vida do usuário. Um exemplo desse esforço, explica o especialista, é o recém-anunciado Health Book, da Apple, em que o usuário pode acompanhar dados sobre sua saúde. Outro é a tecnologia “toc toc”, da LG, que permite que o usuário comece a usar o aparelho somente com dois toques na tela.
Nguyen, da Gartner, concorda e vai além. Para ele, o desenvolvimento de produtos que tenham impacto na vida das pessoas vai determinar os vencedores e os perdedores entre os fabricantes de tecnologia, seja nos consagrados smartphones ou em produtos que começam a chegar agora, como os relógios inteligentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.