A depreciação do câmbio de quase 10% ocorrida nos últimos 60 dias foi um dos elementos que levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) a voltar a subir a taxa básica de juros, alegando uma piora dos riscos para a inflação desde a sua última reunião, segundo economistas especializados em inflação.
A decisão de elevar a taxa básica para 11,25% ao ano, depois de ela ter ficado estacionada em 11% desde abril, foi tomada por precaução, quando se leva em conta apenas a depreciação do real. “Ainda não é perceptível o efeito do câmbio nos preços”, afirma o superintendente adjunto de Inflação da FGV/Ibre, Salomão Quadros. Ele faz essa afirmação olhando para o resultado do IGP-M de outubro, divulgado ontem. O indicador subiu 0,28%, com avanço de 0,08 ponto porcentual em relação a setembro.
Mas, diante do conjunto das pressões inflacionárias, e não só o efeito da depreciação cambial, o mercado acredita que o Copom vai estender o ciclo de alta de juros. Segundo a maioria das instituições consultadas no Termômetro do AE Projeções do Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, entre as 33 casas consultadas, a projeção mais frequente é a de que o Copom seguirá elevando a Selic continuamente até março de 2015, mantendo o compasso de 0,25 ponto porcentual. Isso levaria a taxa básica de juros para 12% ao final do período.
Mudança
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o que mudou para BC entre a divulgação do último Relatório de Inflação e a reunião do Copom de anteontem foi a depreciação do câmbio e os possíveis efeitos sobre os preços. Ele lembra que nesse período o dólar, que estava cotado em R$ 2,25, fechou na quinta-feira, 30, em R$ 2,41.
Essa também é a avaliação do economista do Itaú Unibanco Caio Megale. “O BC deve ter avaliado que essa depreciação cambial pode retardar o objetivo de trazer a inflação para o centro da meta”, afirma. Em 12 meses até setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação, acumulou uma alta de 6,75%. O centro da meta é 4,5%.
Tanto Lima como Megale ressaltam que a depreciação cambial é mais um fator de risco a ser considerado num cenário inflacionário que não vai nada bem. Lima destaca, por exemplo, as expectativas inflacionárias em patamares elevados e a forte preocupação dos agentes econômicos em se protegerem de perdas, o que leva à indexação e mais inflação. “A expectativa, somada à inércia, leva a uma inflação mais alta.”
Adriana Molinari, economista da consultoria Tendências, lembra de outros fatores negativos do cenário inflacionário, como a forte pressão dos preços dos serviços, que acumulam alta de 8,5% em 12 meses até setembro, e a pressão dos alimentos, que deve afetar a inflação no varejo no último trimestre.
Apesar de a alta do dólar ter sido um elemento novo de preocupação para o BC, o repasse para os preços depende vários fatores. “O ritmo de atividade pode limitar o repasse”, observa Lima. Ele acrescenta que a queda nos preços das commodities pode contrabalançar os efeitos da alta do dólar na inflação. Também pondera que há muita incerteza em relação ao novo patamar do câmbio, o que pode adiar o repasse da depreciação para os preços. Colaboraram Maria Regina Silva, Denise Abarca e Flávio Leonel. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.