O chileno Enrique Cueto, presidente da Latam Airlines, é do tipo que não faz rodeios para responder a jornalistas e investidores. Na última quarta-feira, 29, durante uma maratona de entrevistas na sede da companhia, em Santiago do Chile, ele foi direto, como de costume: “nós não estamos contentes com os resultados, nem deste ano, nem do outro, não estamos contentes”, disse antes mesmo de se ajeitar na cadeira.
No comando da maior companhia aérea da América Latina, resultado da fusão da brasileira TAM com a chilena LAN, Cueto está tentando tranquilizar o mercado depois de uma sequência de prejuízos financeiros que somam quase US$ 1 bilhão entre 2012 e o primeiro semestre deste ano. Anteontem, ele anunciou um plano estratégico para fazer com que a companhia recupere suas margens e esteja entre as três maiores do mundo até 2018.
Isso inclui corte de despesas na ordem de US$ 650 milhões até lá e redução do quadro de funcionários, que hoje é de 53 mil pessoas em sete países da América Latina. “Queremos trabalhar de forma mais simples e gastando menos”, disse. “A meta é crescer de 15% a 20% com as mesmas pessoas.” Sem falar em demissões, Cueto disse que esse enxugamento se dará naturalmente com o fechamento das vagas de quem deixar a companhia e a reorganização de áreas como a de recursos humanos e a de compras. No ano passado, a empresa teve despesas de US$ 12,6 bilhões – o objetivo é reduzir em 5% esse valor.
Uma das maiores empresas do Chile, a LAN, comprada pela família Cueto em 1994, ganhou fama no mercado por ser eficiente no corte de custos. “Somos uma empresa espartana”, repetiu mais uma vez Enrique Cueto na sala de reunião envidraçada, de onde se tem uma vista privilegiada do bairro Las Condes, um dos mais caros de Santiago. A sede da companhia está distribuída em um complexo de três edifícios construído pela empresa imobiliária dos Cueto – os departamentos da Latam ocupam alguns andares.
Fusão
Ao lado de Marco Antônio Bologna, que já foi presidente da companhia aérea brasileira e agora está à frente da holding TAM S.A., Cueto não escondeu seu descontentamento em relação ao processo de fusão das duas empresas. “Demorou muito mais do que imaginávamos e, enquanto isso, nossos concorrentes ganharam espaço.”
A união das duas aéreas foi anunciada em 2010, mas só em junho de 2012 ela recebeu o aval de todos os órgãos regulatórios. A previsão é de que, no prazo de um ano e meio, TAM e LAN sejam, de fato, uma única empresa. Um dos passos mais concretos nesse sentido deve ser dado nas próximas semanas, com o anúncio de uma nova marca “A próxima etapa será padronizar os serviços, integrar os sistemas de reserva, até que o passageiro tenha a sensação de estar numa mesma companhia, independentemente de voar TAM ou LAN”, disse Bologna.
Apesar de admitir o atraso na integração, Cueto diz que o que mais empurrou os resultados da companhia aérea para baixo foram fatores externos à fusão. “Ao mesmo tempo em que a concorrência aumentou, toda a região em que atuamos se deteriorou economicamente”, disse Cueto. “Quando fizemos a fusão o cenário era outro.”
No Brasil, com a alta do dólar, a TAM foi obrigada a reduzir sua oferta de assentos nos últimos anos e viu sua participação de mercado cair dois pontos porcentuais entre 2013 e 2014. “Não vamos crescer no mercado doméstico no ano que vem, mas cresceremos 6% nos voos internacionais.”
Na corrida para restabelecer a competitividade da Latam, a empresa vai investir US$ 100 milhões em tecnologia, para facilitar a comunicação com os passageiros por meio de smartphones e tablets, além de US$ 10 bilhões na renovação de sua frota de aeronaves.
A ampliação dos aeroportos de Guarulhos e Brasília também são peças importantes na retomada da Latam. Desde que passou a operar no Terminal 3 de Guarulhos no início do mês, a companhia ampliou em 2,5 vezes o número de origens e destinos, com a redução do tempo de conexão. Ainda assim, mesmo com as mudanças em curso, este deve ser um ano difícil para a Latam. “Mas 2015 será melhor”, diz Cueto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.