A possibilidade de haver desabastecimento de energia elétrica no Brasil em 2015 é descartada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o período chuvoso teve início dentro da normalidade e as previsões do Operador Nacional do Sistema (ONS) sugerem recuperação dos níveis dos reservatórios até abril. Esse cenário tranquilizador defendido por diferentes órgãos federais não tem sido suficiente para convencer consumidores, que já incorporam a suas previsões a possibilidade de um racionamento no próximo ano.
O presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria, por exemplo, mostra uma visão cautelosa para 2015. “Com o nível baixo dos reservatórios e uma demanda (por energia) crescendo 3%, não teríamos tempo de aumentá-los de forma a atender a demanda. Por isso, trabalhamos com essa possibilidade de racionamento”, salientou em entrevista concedida ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, na semana passada.
A preocupação demonstrada por Faria é compartilhada por outros representantes de entidades de classe e especialistas do setor elétrico. O diretor presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, por exemplo, lembra que o nível atual dos reservatórios é inferior ao patamar apurado no início da década passada, quando foi anunciado racionamento de energia. A situação, que já não era tranquila após o período seco, se tornou insustentável quando o nível de chuvas do período úmido, principalmente nos três primeiros meses de 2001, ficou muito abaixo da média.
Agora, no início do período chuvoso, a torcida é para que o mesmo não se repita. “Estamos entrando no novo ano em uma condição pior do que aquela de 2001. Se tivermos uma repetição de 2014, poderemos chegar ao período seco com uma situação difícil de ser administrada”, alerta Mello, para em seguida ressaltar que as previsões sugerem uma situação menos acentuada de seca no início de 2015.
Nesta semana, o ONS divulgou nota na qual afirma que o período chuvoso “está se iniciando dentro da normalidade, conforme as previsões dos institutos de meteorologia, CPTEC/INPE e Cemaden”. O mesmo ONS, contudo, ressalta constantemente, por intermédio de seu diretor geral Hermes Chipp, o crescente desafio que tem sido operar o sistema nacional. Entre os alertas feitos por Chipp estão a necessidade de acionamento das térmicas e a falta de novos projetos com grandes reservatórios, os quais são considerados fonte de segurança para a operação do sistema.
Embora destaque o aumento da capacidade de geração térmica desde o início da década passada, Mello, da Thymos, ressalta que a demanda por energia também cresceu, limitando a “folga” proporcionada pelas usinas térmicas. Por isso, o especialista acredita que o Brasil enfrentará em 2015 uma repetição de alguns dos problemas vividos neste ano, mesmo que a chuva no período úmido impeça um eventual racionamento. É o caso da continuidade das operações das térmicas e do preço elevado da energia.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) elevou de 4,7% para 5% o risco de déficit de energia na região Sudeste/Centro-Oeste em 2015. Com isso, o risco chega no limite tolerado pelo Conselho Nacional Política Energética (CNPE). Na região Nordeste, o risco de falta de eletricidade em 2015 caiu de 0,8% para 0,7%.
Preços
O custo mais elevado de geração de energia se transforma em reajustes maiores, assim como já visto em 2014, o que pode provocar redução do consumo e consequente folga ao sistema elétrico nacional. “Quando há elevação da tarifa bem acima da inflação, há redução da demanda”, destacou nesta semana o presidente da Coelce, Abel Rochinha, em teleconferência com analistas e investidores. Outra possibilidade é o aumento do roubo de energia, situação que estimula a distribuidora de energia do Ceará a promover medidas de estímulo à redução do consumo.
Para reduzir o stress do sistema nacional, especialistas defendem que o governo adote medidas de incentivo à redução do consumo. A menor demanda poderia permitir ao ONS desligar térmicas consideradas mais caras e adotar medidas de preservação dos reservatórios na região Sudeste, onde está localizada 70% da capacidade de reserva hídrica do País.
O governo federal, contudo, não dá indicações de que pretende estimular a redução do consumo de forma direta. As tarifas mais altas e a adoção do sistema de bandeiras tarifárias, no qual a tarifa elétrica ficará mais elevada em momentos de custo mais alto de geração, podem ser um indutor natural ao consumo. O preço da energia se tornaria, dessa forma, um limitador ao risco de racionamento no País.