As bolsas europeias iniciam a semana no azul, apoiadas na onda de apetite de risco que veio a reboque da vitória do democrata Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos. O movimento de alta predomina, mas os mercados monitoram o risco de judicialização à medida que Donald Trump ainda não se convenceu da perda. Dissipadas as incertezas eleitorais nos EUA, a preocupação com a segunda onda de covid-19 deve prevalecer no radar dos investidores enquanto o mundo ultrapassou a marca de 50 milhões de casos da doença.
Por volta das 7h38 (de Brasília), o Stoxx-600, que representa 90% das ações europeias, tinha valorização de 1,46%, aos 371,76 pontos. Com isso, retoma o patamar de cerca de um mês atrás.
"A incerteza em torno da eleição se dissipou e os investidores recuperaram o apetite pelo risco (…). Para os mercados, a vitória de Biden nas eleições é favorável, especialmente se os republicanos conseguirem salvar a maioria no Senado", diz o analista de mercados da australiana Axi, Milan Cutkovic.
No centro das atenções, agora, está o risco de judicialização das eleições. Se Trump não desistir da ameaça – sua família pede que aceite a derrota -, será a segunda vez que o resultado das urnas nos EUA vai à Suprema Corte – antes, a disputa entre George W. Bush e Al Gore, em 2000, teve tal destino. Enquanto isso, Biden segue com a agenda de transição e quer nomear um comitê para gerir a covid-19 já nesta segunda-feira.
O democrata também promete retomar o Acordo de Paris no primeiro dia de seu mandato e busca um novo pacote fiscal, de cerca de US$ 2 trilhões, priorizando uma "retomada verde". Com o Congresso dividido, pesos pesados de Wall Street como o Goldman Sachs esperam apenas metade disso. "Qualquer coisa aqui vai depender da habilidade de Biden negociar com republicanos e democratas, aliado à percepção de que a economia dos EUA está em estado crítico", avalia o fundador da casa de análise Omninvest, Roberto Attuch, baseado na Itália.
Com as eleições dos EUA – quase – resolvidas, a preocupação com a segunda onda de covid-19 tende a deixar de ser um ator coadjuvante nos mercados. O mundo ultrapassou no domingo (8) a marca de 50 milhões de casos, de acordo a universidade americana Johns Hopkins. EUA e Brasil seguem na liderança de vítimas fatais. A despeito do temor com a segunda onda, a expectativa de atuação dos bancos centrais pode dar algum alívio. Na Europa, mais estímulos são esperados para dezembro.
Holofotes também se voltam ao Reino Unido, com a lei do mercado interno, a <i>Internal Market Bill</i>, em debate na Câmara dos Lordes, e possíveis impactos no acordo de retirada do Brexit, como é chamada a separação de britânicos e europeus. Aqui, também a vitória de Biden nos EUA pode influenciar. Isso porque o ministro britânico Boris Johnson era próximo de Trump e pode repensar a estratégia de Downing Street daqui em diante – o próprio acordo comercial com os EUA pode estar mais distante agora.
No câmbio, investidores monitoram os desdobramentos na Turquia e os reflexos das eleições nas principais divisas globais. No último sábado, o presidente turco, Recep Erdogan, decidiu demitir o governador do Banco Central local, Murat Uysal, enquanto no domingo, foi a vez de o ministro do Tesouro e das Finanças do país, Berat Albayrak, renunciar ao cargo por motivos de saúde. Apesar do apetite de risco, o dólar tem uma manhã de alta. O euro opera com leve queda, cotado a US$ 1,1872, de US$ 1,1886 na tarde de sexta-feira, e libra, também em baixa, a US$ 1,314, de 1,3164.
No cenário corporativo, destaque para os papéis da construtora britânica Taylor Wimpey, com alta de mais de 11%, após o Credit Suisse ter elevado a recomendação para o preço-alvo das ações.
De volta às praças do Velho Continente, o índice FTSE 100, de Londres, tinha alta de 1,33%, e o CAC 40, de Paris, subia 1,57%. Em Frankfurt, o DAX registrava elevação de 1,87%. Por lá, as exportações da Alemanha continuaram se recuperando em setembro, embora em ritmo mais lento. Dados publicados hoje pela Destatis mostram alta de 2,3% em setembro ante agosto, em termos ajustados. Já as importações recuaram 0,1%. No mesmo horário, o FTSE MIB, de Mlião, subia 2,16%, o IBEX 35, de Madri, avançava 1,93%, e o PSI 20, em Lisboa, registrava valorização de 1,83%.