Menos de um ano atrás, Elói Pietá – escolhido neste sábado para ser o candidato do PT à sucessão de Sebastião Almeida, o homem que ele colocou na cadeira de prefeito de Guarulhos por oito anos – dizia para quem quisesse ouvir que não tinha a menor intenção de disputar as eleições mais uma vez. Falava que já tinha dado sua contribuição e que a sigla deveria ter novos nomes.
Mas o que mudou de um ano para cá? Muita coisa. O PT, às vésperas de perder a Presidência pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, está envolvido em uma série de escândalos de corrupção que afeta suas principais lideranças nacionais. O ex-presidente Lula, com pedido de prisão já solicitado, corre o risco de passar bons meses encarcerado. O Petrolão atingiu em cheio o partido das estrelas.
Em Guarulhos, a aprovação do governo de Sebastião Almeida é das piores. Números divulgados recentemente por partidos políticos indicam mais de 70% de avaliação ruim ou péssima. A cidade encontra-se destruída. Falta dinheiro para tudo. Obras e mais obras paralisadas por incompetência da administração municipal. O nome da vez, em tese, seria o deputado estadual Alencar Santana, o preferido do atual prefeito.
Mas Alencar perdeu as rédeas do partido na cidade. Sem liderança e mal visto por não cumprir acordos internos e expor uma certa prepotência por considerar – antes da hora – ser o ungido pelas estrelas, naufragou. Perdeu a mão e foi para as prévias sem chances de emplacar. Já o vereador e ex-secretário municipal de Educação, Moacir de Souza, fez o caminho certo. Ganhou a base do PT em Guarulhos, ampliou alianças internas e chegou às prévias com chances reais de ser o escolhido.
Porém, pesquisas de opinião continuaram indicando que Eloi seria o melhor nome para o PT disputar as eleições, que terão candidatos de oposição mais fortes do que nunca. Mesmo assim, o petista aparece na melhor das hipóteses em terceiro lugar, atrás de Carlos Roberto (PSDB) e Guti (PSB), mas próximo de Eli Corrêa Filho (DEM). Ou seja, os petistas teriam no ex-prefeito o maior expoente para tentar chegar a 20 anos no poder local.
Mas Eloi encontrará muita dificuldade. O 13 está em baixa. Apesar dos discursos oficiais apontarem para uma união do partido para a disputa eleitoral, isso está longe se ser uma verdade. Almeida não engole essa candidatura. Tentou até o último minuto fazer Alencar o nome para sua sucessão. Moacir, ao deixar a pré-candidatura poucas horas antes da votação, declarando apoio a Eloi, jogou terra nos sonhos do deputado estadual e decretou de vez um racha ainda maior entre eles.
Partidos que permaneceram ao lado do PT nestes 16 anos abandonaram o barco. Poucos permanecer ao lado do 13. Os demais se bandearam – na maioria – para o DEM de Eli e para o PSD de Fausto Martello. Até secretários de Almeida estão indo para o lado da oposição, como o ainda de Esportes, Wagner Freitas, que sairá pelo PTB. Jorge Wilson, que sempre esteve ao lado dos petistas, lançou sua pré pelo PRB. Ou seja, restarão poucos para carregar o andor.
Na disputa para valer, em 2 de outubro, Eloi terá como sua maior bandeira os oito anos em que permaneceu como prefeito, tentando impor a imagem de que teria sido um bom administrador. Porém, isso figura quase como uma lenda urbana. Ele é execrado pelo funcionalismo púbico municipal, já que – durante alguns anos – repassou apenas 1% de reajuste salarial ao ano para a categoria.
Na área de obras, deixou muito a desejar. No campo viário, foi responsável pela construção do Novo Trevo de Bonsucesso, inaugurado em 2004, às vésperas de sua reeleição, mas que teve vida curta, já que não foi dimensionado para suportar o tráfego da região. Tanto que Almeida foi obrigado a realizar outra obra no mesmo local e refazer tudo pouco mais de dez anos depois, numa demonstração de total falta de planejamento. Detalhe: a obra que deveria estar pronta no ano passada tem poucas chances de ser inaugurada antes das eleições.
O Viaduto Cidade de Guarulhos, principal acesso à região central, é outro fiasco da gestão Eloi. Orçado em R$ 34 milhões, custou mais de R$ 100 milhões aos cofres municipais. E, mesmo assim, teve seu projeto inicial abreviado, tornado a obra – inaugurada no fim de 2008 – sem cumprir sua função principal que era garantir um acesso direto da Dutra a Paulo Faccini. Com o encurtamento, o Viaduto termina antes da Monteiro Lobato, sem acesso direto à avenida, e com semáforos bloqueando a fluidez do trânsito. Nenhuma alça de acesso para quem vem do Rio de Janeiro foi planejada.
Eloi ainda tem de brigar na Justiça para garantir sua candidatura, já que condenações que teve no período em que foi prefeito, podem inclui-lo na Lei da Ficha Limpa e inviabilizar seu desejo de voltar ao Bom Clima.
Tirando os problemas já apontados, Eloi vai para a disputa sem a bandeira do novo. Tentará resgatar um período de vacas gordas, embalado pelos anos do “milagre econômico” proporcionado pelo ex-presidente Lula, que – no final das contas – custou muito para o povo brasileiro.
Quando venceu em 2000, Eloi podia dizer que era contra tudo que estava por aí. Hoje, ele é responsável direto e parte integrante dos 16 anos da administração do PT em Guarulhos. Desta vez, a herança maldita – tão propagada em 2001 – foi deixada por ele próprio.