Dentre 19 candidatos autistas em todo o Brasil, apenas um foi eleito. E em Guarulhos. Em sua primeira disputa eleitoral, Jorginho Mota recebeu 2.073 votos se tornou o primeiro vereador portador do transtorno no Brasil e espera mostrar à cidade os desafios da causa, provando que, em muitos casos, pessoas com esse espectro podem ter uma vida normal.
Ao GuarulhosWeb, Mota, que é empresário, argumenta que os primeiros passos a respeito do autismo acontecem após aceitação e entendimento da condição. “Precisamos mostrar, principalmente aos pais da nossa cidade, que as crianças com transtorno de espectro-autista podem ir longe, porque elas possuem sensibilidade e Q.I. avançados. E que nós podemos representar com excelência essa causa nobre. Deus nos fez todos iguais”, afirma.
“O autismo limita a gente na socialização. Eu sempre fui muito tímido e até hoje sinto dificuldade com mudanças. Só andei aos 4 anos e também falei tarde. Sou uma pessoa extremamente ansiosa e, em lugares com muitas pessoas e barulho, para mim, é muito difícil estar, discursar ou conversar”, complementa o parlamentar.
Mota conta que a descoberta do autismo foi recente e só aconteceu após o diagnóstico do seu filho Téo, de 4 anos, que também possui o espectro. “Eu descobri há dois anos, quando soube que meu filho herdou de mim. Com quase 1 ano e seis meses, ele não comia nada, só tomava mamadeira. Uma vez, em um restaurante japonês, minha esposa deu um pedacinho de sushi para ele e, dali em diante, ele só comia isso. Nós achamos muito estranho e na escola ele tinha comportamentos repetitivos, ficava nervoso e ansioso”, explica.
“A neuropsicóloga perguntou se tínhamos caso de autismo na família e não sabíamos. Não conhecíamos nada sobre o assunto. Durante alguns testes, descobrimos que o autismo dele era uma herança minha e, quando soubemos, foi um alívio. Minha esposa falou que se ele fosse igual a mim, ele teria uma vida normal”, lembra Mota.
O vereador aconselhou que, famílias na mesma condição que a vivida pela sua, devem procurar ajuda médica. “A gente sabe que o tratamento é muito caro e existem pessoas que vão nascer e morrer autistas sem saber. É muito importante que busquem um conjunto de médicos adequados para uma avaliação e entendimento. O autismo não tem cara, não tem rosto. É uma incógnita, um transtorno silencioso”, finaliza.
Especialista relata importância do estímulo na infância
Um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, divulgado em 2018, apontou aumento de 15% no número de crianças que fazem parte do transtorno do espectro autista (TEA) em comparação aos anos anteriores. Ainda segundo o levantamento, existe um caso a cada 59 crianças.
De acordo com Alexandra Oniki, psicopedagoga e fundadora do CIAAG (Centro de Inclusão e Apoio ao Autista de Guarulhos), o desenvolvimento na infância é fundamental para o desenvolvimento dessas crianças. “O desenvolvimento do autista depende muito do estímulo recebido na infância, as intervenções terapêuticas, o grau do autismo e suas comorbidades. Mesmo não tendo cura, quanto mais precoce intervenção, melhor o prognóstico. A pessoa pode se tornar independente e autônoma, dependendo do grau do autismo, ou pode ser dependente de alguém para o resto da vida. Cada caso é um caso”, explica Alexandra.
A respeito de Jorginho Mota, a psicopedagoga acredita que não há impedimentos médicos para que ele realize um bom mandato na Câmara. “Ele tem um grau leve e possivelmente ainda tem limitações de comportamento, mas creio que nada o impeça de fazer um bom mandato, visto não há nenhum comprometimento intelectual”, conclui a especialista.