Nos anos de 1993 e 1994, o escritor Paulo Coelho publicou em vários jornais do país uma breve e inspiradora coluna diária, cujo título era Maktub (carta, em árabe). Tempos depois, o autor lançou coletânea desses textos, com a informação de que o significado amplo da palavra era “assim estava escrito”, imprimindo certa resignação aos aspectos da vida que independem de nossa vontade.
Certa vez, a coluna trouxe esta comovente história: “O homem chegou em casa, após mais um dia de trabalho, e encontrou o ambiente estranhamente escuro. Ao iluminar a sala, foi surpreendido com vozes, em uníssono, que anunciavam a ‘surpresa!’. Era o aniversário dele. Após a música tradicional que se seguiu, um amigo pediu ao homem para que este discursasse. – ‘Estou velho’, disse; – ‘E mais sábio. Durante toda a sua vida, nós o vimos rezar. O que pedia a Deus?’, indagou outro…
… O homem respondeu: ‘No início da vida, jovem e ousado, eu pedia a Deus para que me ajudasse a mudar o mundo; mais tarde, já casado, rogava ao Criador para que eu encontrasse forças para mudar a minha família. Hoje mais consciente de minhas limitações, eu rezo para que o Pai me conceda a graça de melhorar a mim mesmo’’.
Esse é o enredo da peça atualmente interpretada por nós no teatro da vida. Quantas ilusões no sentido de melhorar o mundo dos outros, as pessoas próximas ou não, a política econômica e as relações externas do país… A mudança efetiva e genuína só pode começar e avançar dentro de cada um; em nossos pensamentos, nas palavras pronunciadas ou escritas e nas atitudes que enobrecem ou empobrecem a condição de filho de Deus. Eis aqui uma excelente e justíssima razão para viver: tornar melhor o mundo e as pessoas que nele vivem, desde que seja a partir da vitória nas lutas diárias sobre as nossas próprias fraquezas tão humanas.
Essa é, antes de tudo, uma decisão que pode transformar o ato impossível em fato concreto. Tudo depende, porém, da real utilização do livre-arbítrio – com gratidão e extremo bom senso. Ralph Waldo Emerson (1803-1882), filósofo norte-americano, afirmou: “Cultivar a força de vontade é o objetivo de nossa existência. O momento e a oportunidade esperam de braços abertos os que possuem uma firme determinação”. Assim estava escrito!