A greve dos condutores, que atrapalhou a vida de quase a metade da população de Guarulhos, em tese, pode ser comemorada como uma vitória dos trabalhadores, que conseguiram receber os salários no mesmo dia em que pararam os ônibus das três empresas que atuam no sistema. Mas, numa análise mais detalhada, dá para afirmar que todos saíram perdendo.
Pressão total
As empresas, ao anunciarem quase uma semana antes que atrasariam os salários, já poderiam esperar a reação negativa dos trabalhadores. Seria uma forma de pressionar a Prefeitura para não atrasar os repasses dos subsídios referentes a março. Deu certo: a administração repassou os valores antes do vencimento da folha de pagamento. Mesmo assim, os salários não foram quitados no quinto dia útil, levando os trabalhadores à greve.
Dívida não paga
O que poucos sabem é que a Prefeitura ainda deve muito dinheiro às empresas. Segundo a coluna apurou, o déficit chega a sete vezes o valor de um mês de repasses, referente à inadimplência acumulada em 2014 e 2015. Ou seja, as três viações têm ainda créditos junto a administração municipal. Uma delas, inclusive, não acharia nada mal se aparecesse algum interessado em ficar com seu lote de linhas.
Perdem todos
Por que perderam todos? Os trabalhadores seguem em um clima de incertezas. Não sabem se o vale do dia 20 será respeitado. As empresas, apertadas pela crise econômica e aumentos acelerados nos insumos, não conseguem mais segurar os atrasos passados. A administração, por sua vez, sai derrotada já que a população identifica a Prefeitura como a principal responsável pela paralisação dos ônibus.
Sem plano B
As alternativas oferecidas pela Prefeitura aos guarulhenses em um dia de greve no sistema de transportes não poderiam ser piores. Apesar de a paralisação ser prevista uma semana antes, a Secretaria de Transportes e Trânsito não se preparou. Apenas os micro-ônibus, que operam dos bairros aos terminais, tiveram suas rotas estendidas até a região central. Além de não dar conta da demanda deixada pelos ônibus, eles deixaram na mão quem dependia do sistema alimentador. Coisa de amador.