A melhora das exportações tem levado a uma reestruturação dentro das empresas para repensar a estratégia internacional. Além de algumas contratações de pessoal, as companhias do setor industrial têm intensificado a participação em eventos no exterior e já estudam retomar escritórios de representação lá fora. O movimento só não é mais intenso por causa da crise política e da turbulência no câmbio.
Com a desvalorização do real, a Teka – que entrou em recuperação no ano passado – pretende exportar neste ano entre 15% e 20% da produção de produtos para cama, mesa e banho. Em 2015, apenas 8% da produção foi vendida para outros países. “Por causa da questão cambial, estamos conseguindo voltar a exportar para Europa e Estados Unidos, onde estávamos mais timidamente”, diz Márcio Hoffmann, gerente de exportação da empresa.
No médio e longo prazos, a Teka planeja reativar escritórios internacionais. No passado, a empresa tinha presença na Alemanha, na Argentina e nos EUA. “Esse movimento de volta internacional vai depender do câmbio, sobretudo para continuar exportando para os países do Hemisfério Norte. São mercados mais exigentes e disputados”, diz Hoffmann. Para atender à demanda externa, a Teka aumentou a mão de obra em 12,5% – a empresa tem 1,6 mil funcionários.
Quase todo o setor têxtil e de confecção tem sido beneficiado pelo novo patamar do câmbio. Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) mostram que as exportações cresceram 13,3% entre janeiro e abril ante o mesmo período de 2015. “Até o ano passado, o setor só exportava alto valor agregado. Com o novo câmbio, as empresas também passaram a ser competitivas em produtos de valor agregado menor”, diz Rafael Cervone, presidente da Abit.
No setor de calçados, os resultados foram sentidos apenas em abril, embora haja uma perspectiva de aumento das vendas externas ao longo do ano. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), em abril foram exportados 8,4 milhões de pares, um aumento de 11,7% na comparação com o mesmo mês de 2015.
“Para crescer mais, as empresas estão precisando investir”, afirma Pedro Bartelle, presidente da Vulcabrás/Azaleia. “Esse investimento não tem acontecido no setor pela incerteza do cenário econômico e político. O câmbio ajudou muito, mas as empresas que precisam comprar máquinas e se reestruturar estão esperando um pouco”, diz.
Na Vulcabrás/Azaleia, o crescimento das exportações foi de 20% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado – a venda de calçado feminino cresceu 89% e a de tênis avançou 15%. “Atualmente, a exportação é nosso negócio mais lucrativo. Estamos incentivando a exportação, ainda mais com um câmbio que se desvalorizou tão rapidamente”, diz o executivo.
A Linea Brasil, fabricante de móveis para salas feitos de chapa de madeira, ampliou seu quadro em 10% este ano, para 490 funcionários. A demanda externa respondeu no ano passado por 16% do faturamento da empresa (de R$ 120 milhões) e este ano a fatia já está em 20%. Com fábrica em Arapongas (PR), a empresa vende para 35 países da América do Sul, América Central e África.
“No momento estamos negociando com distribuidores dos Estados Unidos”, diz o diretor comercial Sidney Nakama. A Linea também viu a Argentina “renascer” como importante mercado, após o fim das barreiras impostas pelo governo de Cristina Kirchner. Colaborou Cleide Silva
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.