Para incentivar o uso de cartões como meio de pagamento em cidades com até 40 mil habitantes, o Banco do Brasil desenvolveu uma estratégia que oferece melhores condições a clientes e lojistas. Além de aumentar a base de clientes que usam efetivamente os plásticos e incrementar o faturamento com os cartões, a ideia do banco é aquecer o comércio de municípios de pequeno porte que sofrem com a debandada dos clientes para cidades vizinhas.
O projeto-piloto começou há um mês em Ibirataia, no sul da Bahia, a 356 quilômetros da capital Salvador, que conta com 18 mil habitantes. Os clientes que adquiriram cartões da bandeira Elo ganharam um ano de isenção de taxa de anuidade (R$ 117) e 20% a 30% de pontos no programa de fidelidade.
Eles também conseguem descontos nas lojas quando pagam as compras usando o cartão de débito ou crédito. Os comerciantes que aderiram ao projeto ficaram isentos da taxa de administração da maquininha – que varia entre R$ 90 a R$ 125 – por três meses, que podem ser prorrogados.
O Banco do Brasil tem a conta de pagamento dos funcionários da prefeitura, o que facilitou o início do projeto com os servidores públicos.
Segundo levantamento da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade, o pagamento dos funcionários públicos envolve a liberação de R$ 1,5 milhão, mas R$ 1,1 milhão era gasto em cidades vizinhas, com comércio maior do que o de Ibirataia.
“Foi a nossa oportunidade para reter esse dinheiro aqui mesmo. A gente estava parado, na geladeira, só lamentando a gravidade da crise”, diz Antônio Carlos dos Santos, presidente da CDL e dono do maior supermercado da cidade.
Para aproveitar a oportunidade, os lojistas se uniram e gastaram R$ 20 mil para comprar prêmios que serão sorteados entre os clientes que pagam com cartão na promoção da festa junina.
De acordo com o presidente da CDL, cerca de 70, de um total de 120 lojistas locais aderiram ao projeto. “O pagamento do cartão nos dá a segurança de receber. Se o cliente não pagar, o problema vai ser do banco, que tem uma estrutura forte de cobrança, e não nosso”, afirma Santos. Ele afirma que tem relatos de vários lojistas que quebraram com o número elevado de calotes. Um deles, dono de uma loja de móveis e eletrodomésticos, faliu porque vendeu R$ 1,5 milhão fiado.
Rogério Panca, diretor de meios de pagamento do Banco do Brasil, diz que essa não é uma preocupação do banco, que investiu em educação financeira desses clientes para que o uso dos cartões, principalmente o de crédito, fosse feito de forma “consciente”. “A nossa ideia não é fazer com que esses clientes se endividem ainda mais”, afirmou Panca. Segundo ele, cerca de 80% das operações feitas com o cartão de crédito no banco são pagas integralmente quando chegam as faturas.
De acordo com o Banco Central, o juro médio cobrado pelos bancos em abril no cartão de crédito foi de 114,4% ao ano. Já a taxa do rotativo alcançou 449,4% no mês passado.Panca diz que, além do incremento no faturamento com cartões, o Banco do Brasil ganha ao diminuir a circulação do dinheiro em espécie no município.
Os bancos gastam valores expressivos para abastecer as cidades do interior com dinheiro em espécie, principalmente na questão do transporte e segurança.
Depois que o projeto começou em Ibirataia, outras cidades procuraram o banco com interesse. O Banco do Brasil avaliará os resultados para viabilizar a expansão da iniciativa a outros municípios.
A escolha da cidade de Ibirataia se deve ao fato de a sugestão do projeto ter sido do funcionário Alessandro Ribeiro Dias, que trabalhava na agência do município quando inscreveu sua ideia em um programa interno do banco.
Além da sugestão dele, outras 58 propostas dentre 3.265 do programa de inovação vão ser colocadas em prática pelo Banco do Brasil.
Dias foi transferido da unidade, mas a iniciativa foi implementada na cidade. Para aumentar ainda mais a identificação da população com o município, o Banco do Brasil permite a possibilidade de personalizar os cartões plásticos com imagens da cidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.