O Grupo Pão de Açúcar deve pôr o pé no acelerador em 2015, ano em que o cenário para a economia é considerado desafiador. Para dar conta do plano de expansão no ano que vem, a companhia prevê abrir entre 15 mil e 20 mil vagas em 2015, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo Ronaldo Iabrudi, presidente do GPA. Com isso, o número de funcionários, que hoje é de 157 mil, vai certamente superar a marca de 170 mil. O movimento inclui a abertura de unidades de todas as bandeiras, com foco nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.
Iabrudi disse que plano estratégico específico para 2015 ainda não foi aprovado, mas as metas para o triênio 2014-2016 já previam a abertura de 650 unidades. Com 2.037 lojas no País, o GPA concentra mais da metade delas – 1.136 – no Estado de São Paulo. Segundo fontes, um dos objetivos da gestão atual é que o Pão de Açúcar deixe de ser um grupo majoritariamente paulista. A expansão das lojas em mercados onde a presença ainda é discreta deve trazer ganhos de escala, reduzindo custos de operação.
Com faturamento líquido de R$ 45,86 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2014, crescimento de 12,1% sobre o mesmo período do ano passado, a empresa encerrou o período com lucro líquido de R$ 1,165 bilhão, alta de 19,2%, e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 3,418 bilhões, aumento de 18,6% sobre 2013.
Segundo analistas ouvidos pela reportagem, apesar dos bons resultados no acumulado do ano, o balanço do terceiro trimestre deixou a desejar. “A estratégia de vendas maiores com diluição de despesas se mostrou eficiente até o primeiro semestre”, disse um analista de um grande banco. “O terceiro trimestre foi totalmente diferente. Estamos esperando os resultados do quarto trimestre para entender se o desempenho do terceiro trimestre foi ou não um ponto fora da curva.”
Para Victor Falzoni, analista de varejo do banco Brasil Plural, a divisão de hipermercados do grupo foi a principal responsável pelo pífio desempenho no setor de alimentos – o braço denominado multivarejo, que reúne Pão de Açúcar e Extra, viu a receita recuar 0,3% no período. “O formato atual de hipermercados está sendo questionado. Vemos migração de vendas para outros mercados, como internet e farmácias, por exemplo, que têm opções competitivas em higiene e limpeza.”
Questionado sobre os resultados do terceiro trimestre, o presidente do GPA disse preferir olhar o histórico de desempenho de resultados do que um período específico. “Estamos terminando um ano dos mais complexos. Mas, até agora, em nossa opinião, foi muito bom”, afirmou. “Trabalhamos com um cenário parecido para 2015.”
Formatos
No que se refere a formatos, o executivo diz que a expansão será maior nos “cash and carry”, ou atacarejos, do que nos supermercados e hipermercados da bandeira Extra. A escolha tem razão de ser: a receita líquida da bandeira Assaí cresceu mais de 30% no terceiro trimestre. Ele ressalva, no entanto, que a experiência do consumidor nas lojas têm de ser a melhor em todas as bandeiras. “É preciso respeitar a identidade de cada marca.”
É por essa razão que a empresa enxugou cargos no Grupo Pão de Açúcar para realocar executivos para cada uma das operações. Desde que Iabrudi assumiu a operação em janeiro, substituindo Enéas Pestana, cargos foram eliminados na estrutura corporativa, resultando na demissão de pelo menos três altos executivos – todos “crias” de Abilio Diniz. Outros foram remanejados, como Luiz Elisio Melo, que era diretor de operações do GPA e agora passou a ser responsável pela bandeira Pão de Açúcar.
À frente de uma unidade de negócio específica, Melo tem autonomia para pensar em mudanças. No caso do Pão de Açúcar, além de apagar a imagem de “careira” da rede, com a redução de preços em alguns itens, ele escolheu também trazer alguns diferenciais de atendimento ao País. Em algumas unidades, a seção de perfumaria, que sofre com a concorrência das grandes redes de farmácia, será reformulada e ganhará até iluminação especial para chamar a atenção do consumidor. A empresa também está trazendo da França uma padaria no estilo “boulangerie” para agradar a paladares mais exigentes.
Comparação
Apesar de ter enxugado a estrutura corporativa e dado mais liberdade aos líderes de cada negócio, o presidente do Grupo Pão de Açúcar não vê uma “mudança radical” em relação ao estilo de gestão da época em que o controlador era o empresário brasileiro Abilio Diniz. Para uma fonte de mercado, no entanto, o negócio ficou menos personalista e mais corporativo com a mudança de controle. “Houve mudança de estilo, mas o DNA do Casino é de varejo. Eles entendem muito deste negócio”, diz uma fonte.
Se hoje o discurso é de continuidade, até bem pouco tempo atrás a família Diniz e o Casino brigavam para ditar os rumos da rede, mostrando visões distintas sobre seu futuro. Em 2011, um ano antes de ser obrigado por contrato a entregar o controle da operação ao sócio francês, Abilio tentou costurar, com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a fusão do GPA com a operação global da francesa Carrefour. Isso despertou a fúria de Jean-Charles Naouri, do Casino, que exigia o cumprimento do acordo.
Este foi o início do fim da sociedade. Em setembro de 2013, depois de um longo período de negociações e trocas públicas de acusações, as partes chegaram a um acordo para que Abilio saísse da presidência do conselho do grupo. Em 2014, a família Diniz se desfez de suas ações na empresa, fundada em 1948 pelo patriarca Valentim Diniz. “O Abilio ensinou muito ao Casino e vice-versa.
Mas houve uma quebra de confiança a partir do momento que o Abilio tentou promover a fusão”, diz Maria Cristina Costa, da consultoria de investimento Lopes Filho. Para Falzoni, o fim da disputa deixou a direção da companhia clara. Agora, definitivamente, é o Casino quem manda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.