O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Augusto Heleno, usou as redes sociais para justificar o fato de o governo ter deixado passar as irregularidades no currículo de Carlos Alberto Decotelli, que motivaram seu pedido de demissão do Ministério da Educação. Heleno afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não são responsáveis por analisar currículo de ministros.
"Aos desinformados: o Gabinete de Segurança Institucional/Agência Brasileira de Inteligência examinam sobre quem vai ocupar cargos no governo, antecedentes criminais, contas irregulares e pendentes, histórico de processos e vedações do controle interno. No caso de Ministros, cada um é responsável pelo seu currículo", escreveu o general.
Anunciado como ministro da Educação na última quinta-feira, Carlos Alberto Decotelli entregou a carta de demissão ao presidente Jair Bolsonaro nesta terça. As primeiras inconsistências na formação acadêmica de Decotelli começaram a ser apontadas ainda na última sexta-feira, quando Franco Bartolacci, reitor da Universidade Nacional de Rosário, que disse que ele não conclui o doutorado. Na segunda, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também afirmou que ele não fez pós-doutorado na instituição. Decotelli mudou seu currículo na plataforma Lattes depois dos questionamentos.
A situação já era considerada insustentável e o presidente chamou Decotelli para uma conversa. Em seguida, postou nas redes sociais que o economista estava sendo vítima de críticas para desmoralizá-lo. Mas deu um recado: "O Sr. Decotelli não pretende ser um problema para a sua pasta (Governo), bem como, está ciente de seu equívoco." E não indicou que haveria posse, anteriormente marcada para esta terça. Decotelli saiu da reunião dizendo que era o ministro da Educação.
A saída de Decotelli, no entanto, foi sacramentada após, em nota, a FGV informar que ele não foi pesquisador ou professor da instituição. O presidente Jair Bolsonaro ficou irritado ao saber de mais uma incoerência no currículo do indicado. O governo então passou a pressioná-lo para que apresentasse uma carta de demissão, o que ocorreu na tarde desta terça-feira. Bolsonaro agora analisa uma série de currículos para o MEC e pediu atenção máxima para evitar um novo constrangimento.
<b>Outros casos</b>
Outros ministros do governo Bolsonaro também já tiveram inconsistências no currículo. O antecessor de Decotelli na cadeira do MEC, Abraham Weintraub, foi apresentado pelo presidente como doutor e professor universitário "de ampla experiência em gestão". Entretanto, ele nunca recebeu título de doutor por nenhuma universidade. Após o erro ter sido apontado, Bolsonaro retificou a informação em suas redes sociais. Mas essa não era a única inconsistência no currículo do ministro e, dias depois, ele foi acusado de se "autoplagiar" publicando o mesmo artigo em mais de uma revista.
Já o primeiro ministro da Educação no governo Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez, contava com pelo menos 22 informações falsas em seu currículo. Em março de 2019, Vélez tinha atribuído a si mesmo a autoria de livros que não foram escritos por ele, e listou artigos publicados em periódicos sem reconhecimento científico.
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, se apresentava como "advogada", "mestre em educação", "em direito constitucional" e "direito da família". Em janeiro de 2019, entretanto, ela confessou que os títulos não foram conquistados em uma universidade, mas sim em leituras da bíblia. "Nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico", afirmou.