O novo presidente do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli, defende o papel de governo da instituição que passou a comandar no início deste mês, mas quer voltar a entregar um retorno da sua operação no patamar dos demais concorrentes privados, mais precisamente, no nível do Bradesco, meta que vai perseguir até 2018. “O Banco do Brasil aprendeu a conviver com aquela aparente dicotomia: somos um banco comercial e somos um banco do governo”, afirmou Caffarelli ao jornal O Estado de S. Paulo, em sua primeira entrevista exclusiva. “Como braço do governo, somos remunerados para fazer isso. Mas, ao mesmo tempo, o banco vai buscar o seu resultado, sua sustentabilidade, na competição com os bancos privados. Se perdemos no passado um pouco essa margem, é preciso recuperá-la” completa.
Com mais de 30 anos de casa, Caffarelli sabe que os analistas de mercado sempre ficam com um pé atrás quando o banco é administrado de acordo com as conveniências do governo. Foi assim que o BB quase quebrou nos anos 90. Em anos mais recentes, o ex-presidente Aldemir Bendine assumiu a instituição, em 2009, com a missão de ampliar a oferta de crédito para estimular a economia e liderar uma competição mais aguerrida com os bancos privados, para forçá-los a reduzir os juros.
O retorno do BB, que era similar ao do Bradesco, distanciou-se dos bancos privados. Caffarelli defende, contudo, o papel que o banco e outras instituições oficiais tiveram como motor do crédito, com o agravamento da crise financeira internacional. De acordo com ele, ainda quando era vice-presidente do Atacado do BB, recebia retorno de vários empresários agradecendo o financiamento no momento da crise, em que os bancos privados se retraíram.
Crédito
Com R$ 1,4 trilhão em ativos totais, o Banco do Brasil administra hoje uma base de clientes de quase 64 milhões. Para o executivo, o BB agora está no tamanho adequado: responsável por 20,6% dos empréstimos e financiamentos concedidos no País, é o líder brasileiro em crédito. Sua gestão, afirma, focará em uma melhor rentabilidade por meio de uma fidelização dos clientes e na eficiência operacional.
Ao final de março, o retorno ajustado do banco, que desconsidera efeitos não recorrentes, foi a 5,6%, impactado pelo pedido de recuperação judicial da Sete Brasil, contra 12% do fim de 2015. O Bradesco fechou o primeiro trimestre com rentabilidade de 17,5%; o retorno do Itaú Unibanco no fim de março foi de 19,7%. Para este ano, o BB espera que seu retorno fique entre 9% e 12%. Antes do pedido de recuperação da Sete Brasil, o BB era mais otimista e previa um intervalo entre 11% e 14%.
“Temos estrutura diferente da dos bancos privados. Nós temos vocação para crédito, mas extremamente conservador. A busca pela melhora do retorno será segmentada na minha gestão”, afirma o executivo. “Este ano é muito atípico na economia, com uma série de ajustes. O ano que vem ainda será difícil, mas já começará a mostrar um sinal diferente. Em 2018, começaremos a ter uma aproximação (do retorno dos pares privados)”, estima.
Caffarelli descarta a necessidade de capitalização do banco neste e no próximo ano. De acordo com o executivo, a instituição tem capital suficiente para cumprir as novas regras de Basileia 3 (acordo internacional que visa garantir a solidez do sistema financeiro) sem que, para isso, tenha de receber uma injeção de recursos do sócio controlador, a União, neste e no próximo ano. Ele cita, por exemplo, um movimento na contramão que o banco fez de reduzir, no início do ano, a quantidade de dividendos repassados ao Tesouro Nacional, de 40% para 25%.
Oi
Questionado sobre o impacto do pedido de recuperação judicial da Oi, o presidente do BB, um dos bancos mais expostos à operadora de telefonia com crédito e debêntures que somam R$ 4,4 bilhões, reafirmou que a instituição tem provisionamento acima das exigências regulatórias. O executivo voltou a destacar que o resultado do banco não deriva apenas das operações de crédito e, portanto, um eventual aumento de provisões poderia ser suportado, considerando todas as áreas da instituição.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o BB teria provisionado apenas 3% da sua exposição total à Oi antes do pedido de recuperação judicial. Agora, depois do caso, o banco elevaria seu colchão para 30% ou R$ 600 milhões.
Após a aprovação do pedido de recuperação judicial, diz a mesma fonte, o banco poderia elevar tal porcentual para 70%. Caffarelli, justifica, porém, que não pode comentar casos específicos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.