Economia

Relatório do BC reforça que inflação em 12 meses está em patamar elevado

O Banco Central (BC) avaliou que a inflação acumulada em 12 meses ainda está em patamar elevado. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado na manhã desta terça-feira, 28, o BC afirma que esse quadro é reflexo dos processos de ajustes de preços relativos ocorridos em 2015, bem como do processo de aumento de tributos pelo governo federal e estadual. Também impactaram a inflação nesse período os choques temporários de oferta no segmento de alimentação.

Para o BC, a demanda agregada continuará a se apresentar moderada no horizonte relevante para a política monetária. Segundo o BC, há avanços no combate à inflação.

Mas o relatório adverte, por outro lado, que a continuidade desse processo depende de ajustes na economia brasileira, principalmente na área de política fiscal.

Além disso, outros fatores interferem no combate à inflação. É o caso, segundo o BC, da confluência de fenômenos climáticos sobre a produção mundial de alimentos, mais especificamente de grãos, e seus efeitos sobre os preços domésticos, e as incertezas em relação ao comportamento da economia mundial.

Ajustes fiscais

O RTI trouxe avaliações sobre a área fiscal bem diferentes do documento de três meses atrás. Em primeiro lugar porque na edição de março o governo ainda tratava a meta como um superávit primário, e hoje a previsão está deficitária. Também citou a área fiscal como uma das principais armas de combate à inflação. Além disso, a autoridade monetária reforçou o coro positivo em relação às ações do Ministério da Fazenda sobre o teto dos gastos públicos, ainda que não tenha citado essa ação nominalmente.

Para o Comitê de Política Monetária (Copom), há avanços no combate à inflação, mas que sua continuidade depende de ajustes – principalmente fiscais – na economia brasileira. Além disso, o RTI citou outros fatores que interferem no combate à inflação, como a inércia derivada do processo de realinhamento de preços relativos, a confluência de fenômenos climáticos sobre a produção mundial de alimentos, mais especificamente de grãos, e seus efeitos sobre os preços domésticos e, as incertezas em relação ao comportamento da economia mundial.

Na página 76 do documento, o RTI enfatiza que, no horizonte relevante para a política monetária, as incertezas referentes ao processo de recuperação dos resultados fiscais e ao desenvolvimento de eventos não econômicos influenciaram, e continuarão a influenciar, mesmo que em menor grau, os preços dos ativos financeiros. Até então, o documento não trazia essa percepção de menor influência.

“Dessa forma, importa destacar, mais uma vez, que eventuais aumentos de volatilidade e de aversão ao risco nos mercados internacionais tendem a ser transmitidos aos ativos domésticos, de maneira discreta e incremental, mas que pode ser amplificada ou reduzida em função da percepção da solidez macroeconômica e financeira doméstica”, escreveram os diretores no documento.

O BC também trouxe que entende que esforços para mudar a perspectiva do balanço do setor público são “fundamentais” para criar uma percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo. “Uma política fiscal consistente repercutirá favoravelmente sobre o custo de capital de modo geral, o
que, por sua vez, estimulará o investimento privado no médio e no longo prazo”, escreveram os diretores.

No RTI, houve ênfase sobre a avaliação de que o ajuste fiscal também possui suas próprias defasagens entre a discussão e a adoção das medidas e seus resultados. Para o colegiado, quanto mais tempestiva for a implementação do processo em curso, mais rápida será a retomada de uma trajetória favorável para a dívida pública e para a confiança de famílias e empresas, ajudando na recuperação da economia e no combate à inflação.

“A literatura e as melhores práticas internacionais indicam que uma política fiscal consistente e sustentável contribui para reduzir as expectativas de inflação de forma que o processo de desinflação seja mais rápido e menos custoso”, defenderam os diretores do Copom. Em outro trecho, eles voltam a citar que as expectativas de inflação têm sido impactadas negativamente este ano pelo nível elevado da inflação corrente, pelo aumento recente observado nos preços de alimentos e pelos efeitos residuais do processo de ajuste de preços relativos observado em 2015, mas também pelas incertezas fiscais criadas no passado.

Na página 74, o colegiado aborda mais uma vez a questão fiscal. Para a diretoria, a velocidade de materialização das mudanças na economia e dos ganhos delas decorrentes depende “fundamentalmente” da implementação de medidas fiscais estruturais que consolidem a percepção de sustentabilidade do balanço do setor público.

Os membro do Copom também citam a redução de incertezas no ambiente doméstico e internacional. “Ressalte-se a importância de se estabilizar e, posteriormente, reduzir o endividamento público em relação ao PIB, medida crucial para reforçar a percepção positiva sobre o ambiente econômico, para melhorar a confiança dos agentes e para contribuir para a ancoragem das expectativas de inflação”, trouxe o RTI, nos mesmos moldes da ata deste mês.

Eleições nos EUA e Brexit

Apesar da data de corte do RTI divulgado nesta terça pelo Banco Central ser 17 de junho, a autoridade monetária citou no documento que a decisão do Reino Unido em relação à União Europeia (Brexit) era um dos fatores que aumentaram a incerteza em relação ao cenário de econômico e financeiro global. Em votação histórica na última sexta-feira, os britânicos decidiram em referendo abandonar o bloco europeu, em um processo que deve durar até dois anos. A ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), publicada no dia 16, não havia feito qualquer menção ao Brexit.

O RTI também citou as eleições presidenciais nos Estados Unidos como um dos fatores geopolíticos que aumentaram essas incertezas, com desdobramentos sobre a volatilidade nos mercados financeiros. A eleição que escolherá o sucessor de Barack Obama está marcada para o dia 8 de novembro.

O relatório mudou ainda a avaliação sobre o cenário externo, de “complexo” para “desafiador”. O BC reiterou a preocupação com a atividade de economias maduras, repetido a análise feita na última ata do Copom.

A autoridade destacou o cenário de incertezas em relação ao ritmo de crescimento de importantes áreas econômicas, em especial, a Área do Euro, Japão e China. Além disso, após registrarem resultados favoráveis no decorrer do primeiro trimestre do ano nos EUA, os indicadores de emprego arrefeceram nos meses seguintes, aumentando as incertezas em relação à retomada do ciclo de alta da taxa básica de juros.

Retirada de termo

O Banco Central (BC) retirou do RTI de junho a percepção de que há um risco “significativo” de os reajustes salariais serem incompatíveis com o aumento da produtividade, gerando repercussões negativas sobre a inflação. Agora, de acordo com o colegiado, permanece a análise de que a margem de ociosidade no mercado de trabalho encontra-se elevada, com dados confirmando a intensificação da distensão esperada nesse mercado.

“O Comitê pondera que ainda prevalece risco relacionado à possibilidade de concessão de reajustes de salários nominais incompatíveis com o crescimento da produtividade e com a meta de inflação”, escreveram os diretores.

Neste ponto, os diretores registraram que a teoria indica que crescimento de salários reais compatíveis com crescimento da produtividade constitui elemento-chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços e, consequentemente, ganhos de renda mais permanentes.

O RTI também suprimiu um parágrafo que trazia mais detalhamento sobre a possibilidade de as negociações salariais atribuírem um “peso excessivo” à inflação passada.

Sobre o mercado de crédito, o RTI trouxe poucas mudanças em relação à edição de março e à ata do Copom deste mês. “O Copom destaca que o cenário central contempla moderação do crédito, o que já havia sido observado e tende a persistir”, escreveram os diretores.

Mais uma vez o colegiado escreveu que, após anos em forte expansão, o mercado de crédito voltado ao consumo passou por moderação, de modo que, nos últimos trimestres, observaram-se, de um lado, redução de exposição por parte de bancos e, de outro, desalavancagem das famílias. “No agregado, portanto, infere-se que os riscos no segmento de crédito ao consumo vêm sendo mitigados.”

Em outra dimensão, a exemplo de ações implementadas, o Comitê considera oportuno continuar reforçando as iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito. Esta avaliação também já constava da ata publicada no último dia 16.

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