Economia

País precisa reverter quadro fiscal e reancorar expectativa de inflação, diz Ipea

Depois de um ano com fraco crescimento e desaceleração na demanda – componente que havia sido por anos o principal motor da economia brasileira -, 2015 reserva um período de igual estagnação, avaliaram nesta quinta-feira, 18, economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) durante apresentação da Carta de Conjuntura trimestral, em coletiva no Rio. Os desafios e os principais focos de trabalho para melhorar o quadro e projetar o Brasil numa nova trajetória de crescimento, defende o Ipea, devem ser a reversão do atual quadro fiscal e a reancoragem das expectativas de inflação.

“O melhor é não termos grandes expectativas com relação à atividade econômica no ano que vem”, disse o economista Fernando Ribeiro, coordenador do Grupo de Estudos de Conjuntura (Gecon) do Ipea. “O cenário deixa claro que tem muitos desafios pela frente para a economia voltar a crescer, mas existem duas tarefas fundamentais no curto prazo. Reverter a trajetória de resultado primário das contas públicas e reancorar as expectativas inflação”, acrescentou.

Para 2015, o futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já adiantou que a meta de superávit primário será de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Atingir esse patamar, contudo, exigirá esforços tanto para elevar receitas quanto para cortar despesas. “Dada a contenção de despesas, o governo tende a dar uma contribuição mais negativa para o crescimento”, observou Ribeiro.

A recomposição do superávit primário, depois de se ver o governo gastar mais do que arrecadou no acumulado de 2014 (até outubro), é considerada uma das questões mais relevantes para 2015. Segundo os economistas do Ipea, é preciso equilibrar as contas públicas para que o País volte a crescer no futuro. “Isso basicamente envolve uma recuperação de receitas, implicando certamente aumento da carga tributária, combinado com um controle de despesas”, comentou o economista.

A segunda tarefa, segundo ele, é reancorar as expectativas de inflação. “No ano que vem, temos de lidar com pressões para reajuste de administrados e também com alguma pressão do câmbio, dada a desvalorização que ocorreu recentemente”, enumerou Ribeiro.

Os olhos se voltam, nesse sentido, para o Banco Central e o Comitê de Política Monetária (Copom), à espera dos próximos passos deste novo ciclo de aperto monetário. Desde o fim das eleições, o Copom elevou os juros básicos duas vezes, em 0,25 ponto e posteriormente em 0,50 ponto porcentual, chegando a 11,75% ao ano.

Para este ano, os efeitos estatísticos apontam que o PIB apresentou crescimento zero até o terceiro trimestre, estimam os economistas do Ipea. Isso indica que qualquer resultado, positivo ou negativo, para o ano dependerá do desempenho da economia nos últimos três meses de 2014. “A discussão é se vai crescer zero, um pouquinho acima de zero ou pouquinho abaixo de zero. Não faz tanta diferença assim. É um quadro de estagnação bastante pronunciado”, avaliou o economista Claudio Hamilton Santos, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.

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