RTI: Copom não pretende reduzir grau de estímulo

O Banco Central (BC) reafirmou nesta quinta-feira, por meio do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que não pretende elevar a Selic (a taxa básica de juros da economia), a menos que as expectativas de inflação estejam próximas das metas.

Na semana passada, o colegiado manteve a Selic em 2,00% ao ano. Na ocasião, o BC divulgou sua projeção de inflação no cenário híbrido, com juros do relatório Focus e câmbio fixo a R$ 5,30: 2,1% para 2020, 2,9% para 2021 e 3,3% para 2022. Estes porcentuais estão abaixo das metas de inflação perseguidas pelo BC: 4,00% para 2020, 3,75% para 2021 e 3,50% para 2022.

Na prática, o BC passou a indicação de que pode elevar a Selic somente quando as expectativas de inflação estiverem próximas das metas.

No RTI de hoje, o BC também afirmou que há uma "assimetria em seu balanço de riscos". De um lado, o BC lembra que o nível de ociosidade da economia pode produzir inflação abaixo do esperado. De outro, ele cita que as políticas fiscais de resposta à pandemia e as frustrações com as reformas podem elevar a inflação. Neste sentido, os programas podem adicionar uma assimetria no balanço de riscos.

Ainda assim, o BC não vê elevações dos juros neste momento. Em sua linguagem técnica, o colegiado afirmou: "apesar de uma assimetria em seu balanço de riscos, o Copom não pretende reduzir o grau de estímulo monetário, a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária, que atualmente inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022. Essa intenção é condicional à manutenção do atual regime fiscal e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo. "

Estas ideias já estavam presentes no comunicado e na ata da decisão da semana. No documento de hoje, o BC também abordou o <i>foward guidance</b> da política monetária.

"De forma a prover o estímulo monetário considerado adequado para o cumprimento da meta para a inflação, mas mantendo a cautela necessária por razões prudenciais, o Copom considera apropriado utilizar uma prescrição futura (isto é, um <i>forward guidance</i>) como um instrumento de política monetária adicional". Esta prescrição futura inclui, justamente, a avaliação em relação à trajetória da Selic, considerando as projeções de inflação, as metas e o regime fiscal.

<b>Cenário básico</b>

O Copom reafirmou que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. De um lado do balanço, continua o risco da elevada ociosidade da economia produzir inflação abaixo da esperada, "notadamente quando essa ociosidade está concentrada no setor de serviços". "Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional", destacou o Copom no RTI.

Porém, o BC considera que medidas de resposta à pandemia de covid-19 que piorem a trajetória fiscal de forma prolongada – ou mesmo a frustração com a continuidade das reformas – podem elevar os prêmios de risco.

"Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos", disse o BC. "Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária." Estas avaliações já constavam do comunicado e na ata do encontro da semana passada do Copom.

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