O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem as condições para fazer os ajustes necessários na economia, como o reequilíbrio das contas públicas, mas, num quadro de incerteza no cenário internacional, a nova equipe econômica precisa ir além dos ajustes macroeconômicos de curto prazo e buscar fazer reformas microeconômicas com efeito de longo prazo. A avaliação é do economista e estatístico Aloisio Araujo, que foi professor de Levy durante o mestrado na Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio.
“A política econômica não pode virar um império da macroeconomia de curto prazo”, alerta Araújo, professor e pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e da EPGE, escola da FGV do Rio que reúne os cursos de pós-graduação em economia, um dos celeiros do pensamento econômico de perfil ortodoxo e liberal no País.
Para Araujo, o ajuste fiscal almejado por Levy e sua equipe é “duro, mas tem que ser feito”. O professor confia no ex-aluno ministro e em sua equipe para dar conta de reorganizar as contas públicas. “A equipe é muito boa”, diz.
Se depender do perfil do secretário de Política Econômica, Afonso Arinos de Mello Franco Neto, as reformas microeconômicas poderão ser atacadas. Também aluno de Araujo e colega de Levy tanto no mestrado na FGV quanto no doutorado na Universidade de Chicago, Arinos trabalhou no Cade, órgão de defesa da concorrência, de 2000 a 2002. Na EPGE/FGV, de onde sai para Brasília, lecionou sobre defesa da concorrência, comércio internacional e microeconomia.
Araujo cita como reformas microeconômicas importantes a simplificação do sistema tributário, ajustes no marco regulatório do setor de petróleo e gás (se não o fim do regime de partilha, ao menos a retirada da Petrobras como operadora única do pré-sal), avanços nas regras de liquidação bancária e aperfeiçoamentos na Lei de Falências, que completa dez anos no próximo mês.
“Se a economia internacional está mal e estamos quase em recessão internamente, uma melhoria no desempenho micro da economia contrabalançaria as coisas. Pode ser o momento de voltar à agenda microeconômica. A gente avança de vez em quando nisso, sobretudo nas crises”, analisa Araujo.
Traçando um paralelo, na gestão do petista Antonio Palocci na Fazenda, no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando Levy e outros integrantes de sua equipe trabalhavam por lá, houve avanços em algumas reformas, lembra Araujo. Um deles foi justamente a aprovação da Lei de Falências, em fevereiro de 2005.
Agora, a questão é saber se haverá apoio para reformas. “O Joaquim é preparado e tem respaldo político para melhorar o fiscal, mas há muitas outras coisas na agenda econômica”, resume Araujo, que passou o último ano como professor visitante na Universidade de Harvard e agora está de volta às aulas na FGV do Rio.