O recuo do crédito no primeiro semestre de 2016, tanto na modalidade livre quanto na direcionada, foi resultado principalmente de quatro fatores, afirmou hoje o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel. O primeiro deles é a retração da atividade econômica no País, que limita a busca por crédito tanto por empresas quanto pelas famílias.
O saldo do crédito nos primeiros seis meses do ano, de acordo com o Banco Central, recuou 2,8% (-4,1% no livre e -1,3% no direcionado). No mesmo período, as concessões médias cederam 10%.
“Com a retração econômica, há menor demanda por crédito pelas empresas”, citou Maciel. “Do lado das famílias, o recuo do PIB significa menor renda e isso também é um desestímulo para a tomada de crédito”, acrescentou.
Além da retração da atividade, Maciel citou a elevação do custo do crédito como um dos fatores para a queda do crédito no primeiro semestre do ano. “Houve aumento desse custo no primeiro semestre, puxado fundamentalmente pelos spreads”, afirmou.
Outro fator citado por Maciel foi a confiança. “Claro que a gente não pode deixar de mencionar o ambiente de incertezas que predominou nos últimos meses, desde o fim do ano passado, com baixa confiança dos agentes. Os indivíduos ficam mais avessos a comprometer a renda futura. Foi isso o que predominou”, avaliou.
Por fim, o câmbio impactou as operações atreladas à variação cambial, conforme Maciel. “O câmbio se valorizou e isso contribuiu para diminuir o saldo em algumas modalidades”, disse.
Junho
Especificamente sobre o mês passado, quando houve recuo de 0,5% do saldo de crédito na margem, Maciel afirmou que a retração em meses de junho é rara, tendo ocorrido antes apenas em 2001. Segundo ele, as empresas puxaram o resultado, com retração de 1,3% em junho ante maio deste ano.
Apesar dos recentes indicadores de perspectiva mais positivos, Maciel afirmou que, em junho, na margem, “o crédito ainda não reagiu”. “Os sinais ainda são incipientes, ainda não dá para dizer que houve reação no crédito”, comentou. “Há alguma reação, mas ainda incipiente, em concessões”, afirmou. As concessões de crédito em junho, conforme os dados do BC, subiram 4,2% em relação a maio.
No segundo semestre, porém, Maciel afirma esperar um resultado “mais forte” no crédito, em função da base comparativa. “A comparação com o segundo semestre de 2015 será mais favorável”, lembrou. Para o ano de 2016, a projeção do BC para o crédito é de crescimento de 1%.
Famílias
Maciel ressaltou que houve expansão do volume de crédito imobiliário para as famílias no primeiro semestre deste ano, mas em um patamar bem inferior ao de igual período de 2015. De janeiro a junho deste ano, o financiamento imobiliário apresentou alta de 3,4%, ante expansão de 9% vista na primeira metade de 2015.
Maciel ressaltou que também no caso desta modalidade pesaram as condições de financiamento, como o aumento das taxas de juros, por exemplo. Em junho de 2015, a taxa média dessa modalidade era de 10,4% e agora está em 11,2%. “Isso desestimula, sem dúvida, as contratações”, comentou.
Para se ter uma ideia, no primeiro semestre deste ano as concessões para empréstimo imobiliário para Pessoa Física desabaram 34,7%, com destaque para a queda dos contratos feitas com taxas de mercado (-43,7%). Os negócios com juros regulados pelo governo foram reduzidos em 33,2% no mesmo período.