Embora tenha nascido na Capital, no bairro da Penha, Vicentino Papotto, 73 anos, se considera mais guarulhense que paulistano. Quando criança, costumava provocar os vizinhos falando de um jeito nada elogioso de Guarulhos. "Eu e minha irmã chamávamos nossos vizinhos de ‘caipiras guarulhenses. No fim fui eu que virei caipira". E foi na cidade "caipira" que ele cresceu, formou sua família e foi eleito prefeito.
Papotto chegou à cidade aos 11 anos de idade, depois que seu pai começou a trabalhar na Empresa de Ônibus de Guarulhos. Lá, ele também teve sua primeira experiência profissional, como varredor. "Não gostei, mas meu pai me colocou lá só pra eu não ficar desocupado pelas ruas". A carreira na empresa durou 40 anos.
Com o tempo, ele conquistou posições melhores dentro da companhia e chegou ao cargo de tesoureiro, além de ter sido acionista do grupo. O que mais o impressionou na cidade foi o rápido crescimento. "Quando cheguei tinha só 50 mil habitantes e parecia que todo mundo se conhecia". Ele sempre conciliou a rotina de trabalho com os estudos e se formou em administração pelas Faculdades Integradas de Guarulhos.
Sua relação com Paschoal Thomeu veio da infância, pois eles moravam na mesma rua da Penha. Durante toda a vida, eles jamais deixaram de manter contato um com o outro. O carinho pelo amigo é lembrado até quando lembra da data em que o pai chegou ao País buscando o "novo mundo", em 1926. "Foi nesse ano que o Paschoal nasceu."
A aventura política se deu graças a um convite feito em dezembro de 1988, logo após a eleição de Thomeu. "O Paschoal falou de repente que eu ia ser Secretário de Finanças". Afeito a desafios, Papotto aceitou a proposta na hora e até hoje se orgulha do papel que desempenhou no período. "As dívidas eram imensas e fizemos várias reestruturações."
Em abril de 1991, uma manchete do jornal Folha Metropolitana lançava a pergunta: "Quem será o sucessor?". Os nomes mais comentados eram o de Ademar Sousa e Néfi Tales. Como de praxe, Papotto vez sua visita diária ao gabinete do prefeito e, mais uma vez, foi surpreendido pela proposta do político. "Ele perguntou se eu queria ser candidato e eu disse que sim. Até dezembro daquele ano, nenhum dos dois tocou mais no assunto até que Thomeu sugeriu que a campanha junto aos eleitores deveria começar. "Nós fomos visitando os bairros e muita gente me reconhecia ainda da época da Empresa de Ônibus, quando eu ainda atendia por ‘Vicentinho e usava calças curtas", relembra.
A princípio, sua candidatura parecia fadada ao fracasso. As pesquisas iniciais apontavam que apenas 2% dos eleitores tinham a intenção de votar em Papotto. Ele venceu a eleição ainda no primeiro turno e associa a virada à popularidade de Thomeu.