Cidades

Do cárcere para as telas do cinema

Para conquistar tudo que sempre sonhou, Emerson Martins Ferreira escolheu caminhos tortos e entrou no mundo do crime. Acabou preso e ficou cinco anos atrás das grades. Hoje, com 26 anos, é assistente técnico da coordenação do grupo Afro Reggae, estudante de psicologia e ator do filme Na Quebrada, lançado semana passada em todo o Brasil.
 
Preso por tráfico de drogas em 2008, Emerson ficou preso por aproximadamente cinco anos. “Sempre tive objetivos, mas a inconsequência da juventude me levou a acreditar que mundo dos crimes seria um atalho para conquistar tudo o que queria. Na realidade foi, mas durou pouco” , afirma. Ele cita que um ano e meio após estar preso começou a rever seus conceitos sobre suas escolhas e vivências.
 
Por ter o ensino médio, conseguiu uma vaga para dar aulas dentro do presídio Adriano Marrey, onde cumpriu sua pena. Enquanto lecionava, surgiu a oportunidade de montar um grupo de teatro que ensaiava dentro da prisão. Sabia que no futuro a trupe sairia do complexo para se apresentar em alguns lugares na cidade. Mas, como estava em regime fechado, não iria poder acompanhar os companheiros.
 
Mesmo assim, mantinha sua participação ensaiando com o grupo. Uma semana antes da apresentação fora do presídio, teve a concessão para terminar de cumprir a pena em regime semi-aberto. Desta forma, ganhou o direito de apresentar o espetáculo com o grupo.
 
Com a liberdade, o acesso à universidade e a um mundo novo
 
Durante os sete meses de regime semi-aberto, Emerson começou a trabalhar em um restaurante, tirou os documentos necessários e, assim que conseguiu a liberdade, ingressou na faculdade.
 
“Devo tudo a Juliana Aguiar Carneiro, que mantinha um projeto social dentro do Marrey. No dia da minha liberdade, ela me colocou no carro dela e me ajudou em tudo que precisei. Se hoje estou na faculdade é porque ela me mostrou o caminho”, relembra.
 
Após concluir o primeiro semestre da faculdade, Emerson retornou ao presídio com a intenção de ajudar em alguma atividade para auxiliar os que ainda estavam por lá. “Foi quando descobri que uma equipe trabalhava em conjunto com o grupo de teatro. O projeto era dirigido por Fernando Andrade, irmão do apresentador Luciano Hulk, que fez questão que as duas primeiras turmas de teatro do Marrey participassem do filme”. 
 
No filme Emerson interpreta um traficante, que auxilia e protege uma jovem de seu pai que é usuário de drogas e quer que ela se prostitua. Em outro momento ele faz com que um estudante do bem entre para o crime.
 

Trabalho com ex-detentos
 
Hoje, Emerson trabalha no Grupo Cultural Afro Reggae. Sua função é receber os ex-detentos que acabaram de sair do cárcere, com o objetivo de recolocá-los no mercado de trabalho. “Acredito que estes cinco anos foram uma preparação para o que eu sou hoje, eu precisava passar por tudo isso”, explica.
 
Emerson conta que este trabalho é muito difícil. Segundo ele, ressocializar alguém que talvez nem tenha sido socializado antes de ser preso é complicado. “Em cárcere convivendo com o crime organizado aguardando a liberdade, muitas vezes a pessoa sai sem expectativas e retorna ao crime, a taxa de reincidência chega a 80% no país”, completa.
 
Outra dificuldade apontada por Emerson é a falta de oportunidade devido ao preconceito sofrido por estas pessoas. Muitas empresas não dão oportunidade a quem precisa e o único meio de se sustentar é voltando ao crime. “Uma pessoa ajudada tem por trás no mínimo mais três pessoas, isso significa que podemos reestruturar uma família inteira”, diz Emerson.
 
Estudante da UNG
Emerson cursa o quinto semestre da faculdade de psicologia na Universidade de Guarulhos (UNG). “Nunca gostei de ler, mas no cárcere devido à ociosidade, me peguei um dia lendo bula de remédio para passar o tempo”. Ele conta que descobriu que dentro da unidade prisional havia uma biblioteca e passou a se interessar por livros de psicologia..
 

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