O cardiologista Marcelo Queiroga, que deve ser nomeado nesta quarta-feira, 17, já despachou na terça-feira, 16, no Ministério da Saúde, prometendo dar "continuidade" ao trabalho do general Eduardo Pazuello, que deixa o cargo com a gestão contestada e recorde de mortes pela covid. No seu primeiro dia de trabalho, Queiroga – o quarto ministro a ocupar o posto em menos de um ano – afirmou que vai assumir o cargo para "executar a política do governo de Jair Bolsonaro, não do ministro da Saúde".
Com o governo pressionado a acelerar a vacinação no País, o médico afirmou que vai trabalhar para ter o "resultado mais desejável" no combate ao novo coronavírus e priorizou melhorar o atendimento em UTIs. Na única declaração que destoou de Bolsonaro, Queiroga defendeu o uso de máscaras, medida que reconheceu ser "básica", mas não prometeu romper com políticas sem eficácia que viraram aposta do governo, como o incentivo ao uso da cloroquina.
Aposta pessoal de Bolsonaro, o cardiologista sinalizou já nas primeiras falas que não fará mudança brusca em ações do governo na pandemia. Queiroga assume o posto após Pazuello acumular desgastes, incluindo uma investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura omissão do governo federal no colapso na rede de saúde do Amazonas em janeiro. A troca de ministros ainda ocorre quando o governo tenta esfriar a ameaça de abertura de uma CPI no Congresso Nacional sobre a pandemia.
Secretário executivo do Ministério Saúde no início da gestão Bolsonaro, o médico João Gabbardo lamentou o fato de Queiroga assumir a pasta sem rechaçar o uso de cloroquina ou defender um lockdown, medidas que contrariam a visão do presidente. "O recorde de óbitos hoje será em alta escala. Sugestão: não se posicione contra o lockdown nacional", aconselhou, nas redes sociais, o atual coordenador do Centro de Contingência da covid-19 no governo de São Paulo.
A desconfiança sobre Queiroga aumentou após a médica Ludhmila Hajjar recusar convite para substituir Pazuello por divergências com Bolsonaro. A médica era apoiada ao cargo por autoridades do Congresso e no STF. Em reunião com Hajjar, porém, o presidente manteve a defesa de tratamentos sem eficácia comprovada e rejeitou medidas de restrição de circulação, como um lockdown. A médica ainda afirma que sofreu ameaças de morte após se tornar cotada ao cargo.
<b>Sem avaliação</b>
Apesar das críticas às ações do governo e o quadro da pandemia, Queiroga afirmou que não tem "avaliação" sobre a gestão Pazuello. "O ministro Pazuello tem trabalhado arduamente para melhorar as condições sanitárias do Brasil. Eu fui convocado pelo presidente Bolsonaro para dar continuidade a este trabalho e conseguirmos vencer essa crise na saúde pública brasileira", declarou.
O médico também disse que se baseará "na melhor evidência científica". Bolsonaro, porém, fez na pandemia diversas afirmações distorcidas para questionar a eficácia de vacinas, máscaras, lockdown e outras medidas recomendadas para combater a pandemia.
Em outra declaração em sintonia com o Palácio do Planalto, Queiroga disse ser preciso atacar a pandemia, mas preservar a atividade econômica e pediu "união da nação". "Para garantir emprego, renda e recursos", afirmou.
Ao lado do médico, em declaração à imprensa no fim da tarde, Pazuello defendeu a sua gestão e disse que não há uma "transição" em curso. "Continua o governo Bolsonaro, continua o ministro da Saúde. Troca o nome de um oficial general que estava organizando a parte operacional, gestão, liderança, administração. Agora vai chegar um médico com toda a sua experiência na área de saúde para ir além", declarou Pazuello. O general e o novo ministro não responderam aos questionamentos dos jornalistas.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>