Saúde

Ronco e apnéia do sono atingem também as crianças

Ortondotistas ajudam na detecção de obstruções das vias aéreas

A interdisciplinaridade das especialidades da área da saúde tem se tornado cada vez mais comum em prol dos benefícios que isto traz aos pacientes e aos avanços obtidos nos tratamentos médicos. "A odontologia é um exemplo. A sua atuação vai muito além dos problemas bucais. Ela também trata de questões ortopédicas faciais, distúrbios do sono, emagrecimento e zumbidos em conjunto com outras especialidades, por exemplo", aponta Juarez Köhler, especialista em ortodontia e ortopedia facial da equipe interdisciplinar da Köhler Ortofacial.

No caso dos distúrbios do sono a odontologia atua – juntamente com a medicina do sono – no diagnóstico e também no tratamento do problema. O ronco e a apnéia do sono – interrupção abrupta e breve da respiração, que pode repetir-se dezenas ou até centenas de vezes durante a noite – são fatores que sinalizam a presença de alguma irregularidade. "Estes sintomas não afetam apenas os adultos, mas também as crianças, prejudicando o seu crescimento. Este fato tem chamado a atenção de pesquisadores com relação ao processo de crescimento e desenvolvimento craniofacial, com especial atenção para a região dentofacial que inclui a boca, a língua, os dentes e seus anexos", explica Gerson Köhler, ortodontista e ortopedista facial da equipe interdisciplinar da Köhler Ortofacial e professor de pós-graduação convidado da UFPR desde 1988.

O ronco e a apnéia podem ser causados pela obstrução das vias áreas superiores. Esta obstrução acontece devido ao crescimento excessivo das amígdalas e da adenóide. O tratamento precoce, feito com a intervenção de médicos otorrinopediatras, ortodontistas pediátricos e ortopedistas faciais em contexto interdisciplinar é fundamental. "Quanto mais cedo a intervenção ocorrer menores são as chances de ocorrer alterações do crescimento facial e de a criança se tornar um adolescente e um adulto com distúrbios do sono", destaca Juarez.

Obstrução nasal

Pesquisadores do Ambulatório dos Distúrbios do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) consideram a obstrução nasal a primeira causa a determinar a respiração bucal. Por ser o fator mais precoce a obstrução causas sérias consequências durante a infância. "A respiração bucal pode provocar alterações do crescimento e desenvolvimento do rosto infantil. Estas deformidades ocorrem de forma lenta e progressiva, apresentando seus malefícios quando já estão instaladas", observa Gerson, que também é especialista em Ortopedia Funcional dos Maxilares.

O crescimento inadequado da maxila e da mandíbula, a redução das arcadas ósseas dentárias, a redução do tamanho dos seios paranasais e também frontal, o aprofundamento e estreitamento do palato – mais conhecido como céu da boca – e alterações na posição da língua são algumas das consequências da respiração bucal. "A redução das dimensões nasais também é resultado do problema. A criança fica com a face estreita e aspecto alongado, conseqüência chamada de dismorfia facial", esclarece Juarez.

O diagnóstico pode ser feito ainda na infância pelo pediatra ou então por outros profissionais como odontopediatra, otorrinopediatra, ortodontista pediatra, ortopedista facial ou ainda o fonoaudiólogo mioterapeuta. "O mais importante é que o especialista em crianças que detectar o que esteja ocorrendo promova um tratamento interdisciplinar para que possa ser feita a prevenção de males funcionais e estéticos ainda maiores no futuro", considera Gerson.

Os dois especialistas e a fonoaudióloga da equipe, Nilse Köhler, especialista em distúrbios funcionais orofaciais, enfatizam que as providências precoces e preventivas deveriam ser uma rotina nos consultórios em relação ao crescimento e desenvolvimento facial e os distúrbios da respiração e do sono em crianças. "Somente com um tratamento precoce é possível evitar que as consequências se agravem e se prologuem pelo resto da vida do paciente. Os distúrbios do sono na fase adulta podem aumentar os riscos do surgimento – entre outras doenças – da hipertensão, ligada diretamente às questões cardiovasculares e suas consequências", acrescenta Nilse.

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