Economia

Marmita salva as contas no fim do mês

A manutenção da inflação de serviços em níveis altos provocou uma mudança de hábito de consumo, especialmente da nova classe média brasileira, a classe C, para acomodar a pressão inflacionária de novas despesas no orçamento. Amanda Nunes Simões dos Santos, de 26 anos, que trabalha no setor de turismo, passou a levar marmita ao trabalho para economizar. “Desde que comprei o meu apartamento há um ano, comecei a trazer marmita”, diz.

A mudança ocorreu porque ela foi surpreendida com a despesa de condomínio. Amanda, que mora com a família numa casa e vai se casar no fim do ano, comprou um apartamento na planta. Na época que fechou o negócio, o valor previsto do condomínio era de R$ 250. Com a entrega do imóvel e as despesas extras, o valor saltou para R$ 600. A renda dela e do futuro marido soma R$ 6 mil. “Fui informada que o condomínio vai diminuir para R$ 365, mesmo assim é pesado.”

A bancária Natália Domingues dos Santos, de 24 anos, é outra que está se adaptando ao consumo de novos serviços. Faz dois meses que ela comprou o primeiro carro, um Ford Ka, ano 2011. Desembolsou pelo carro R$ 17,9 mil e teve de fazer um seguro de R$ 1,5 mil.

“Carro é uma família”, diz a bancária, que tem renda mensal de R$ 4 mil. Ela calcula que as despesas com seguro, estacionamento e manutenção do veículo consomem cerca de 15% da sua renda mensal. “Apesar disso, não vou deixar de ter carro”, lembrando que se trata de um conforto e que os seus pais não tiveram a possibilidade de comprar um veículo.

O técnico de segurança do trabalho Renato Rocha, de 31 anos, é outro que não vê possibilidade de reduzir os gastos com estacionamento, apesar de o preço continuar elevado, especialmente nos shopping centers. “Tenho medo de deixar o carro na rua e ter uma despesa maior”, diz ele, que paga seguro do veículo. No passado, Rocha até tentou andar de transporte público, mas concluiu que não era interessante, pois não havia linhas de ônibus e metrô de fácil acesso para onde ele precisava ir.

Um estudo da empresa de pesquisa IPC Marketing, que avalia potencial de consumo de mercado, mostra que em 15 anos, entre 1999 e 2014, gastos com veículos, que envolve a compra do carro, despesas com seguro, estacionamento, despachante, entre outras, cresceram 969,5% para a classe C, com renda média mensal familiar entre R$ 1,5 mil e R$ 2,3 mil. Foi o maior desembolso do período para esse estrato social, seguido pelas despesas de manutenção do lar (771,3%), que englobam gastos de condomínio, higiene e cuidados pessoais (626,8%), que abrangem gastos em salões de beleza e produtos e a alimentação fora de casa (575,1%).

“A mudança de hábito de consumo da população está sustentando os preços dos serviços, principalmente a classe C, que teve papel importante na mudança da pirâmide social”, diz o diretor da IPC Marketing, Marcos Pazzini.

Fora de casa. Apesar de manter os gastos com estacionamento, mesmo achando o preço elevado, Rocha decidiu cortar as idas ao restaurante com a família por causa da alta de preços. Antes, levava o filho para comer fora uma vez a cada 15 dias, agora é uma vez por mês. “Diminuí a frequência.”
Também o cabeleireiro Júlio César Rossi, de 31 anos, mudou os hábitos de consumo. “Antes ia comer fora com a família uma vez por semana. Agora é uma vez a cada 15 dias”, conta ele, que é casado e tem uma filha. Para economizar, a família está preparando refeições em casa.

Já no caso das refeições diárias que Rossi tem de fazer na rua por causa do trabalho, não há como economizar. Ele observa, no entanto, que o preço subiu. Pouco tempo atrás ele gastava R$ 10,50 por refeição, já considerando os descontos. Hoje ele desembolsa R$ 13,50.

“O preço da refeição fora de casa subiu muito porque os alimentos ficaram mais caros”, diz o cabeleireiro João de Jesus, de 47 anos. Ele conta que recentemente ficou surpreso, quando comprou uma pizza para levar para casa e pagou pelo refrigerante de dois litros quase a metade do valor da pizza.

No caso do corte de cabelo, Jesus diz que o preço do corte teve um reajuste de R$ 23 para R$ 28, mas faz tempo. Um estudo da LCA Consultores mostra que, no ano passado, o preço do corte de cabelo subiu 8% e, em 12 meses até agosto, a alta acumulada é de 7,8%. O cabeleireiro conta que sentiu nos últimos meses retração na procura das clientes por serviços mais caros, como luzes e escova progressiva para alisar o cabelo.

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