O presidente da Bielo-Rússia, Alexander Lukashenko, denunciou nesta terça-feira, 4, uma tentativa de "organizar um massacre" em Minsk antes das eleições presidenciais, após a detenção de 33 "combatentes" russos de uma organização próxima ao Kremlin.
"A tentativa de organizar um massacre no centro de Minsk é evidente", afirmou durante seu discurso à nação, acusando a Rússia de "mentir" sobre as pessoas detidas porque "não contaram tudo".
No fim de semana, a prisão de 33 supostos mercenários russos na Bielo-Rússia, acusados de estarem no país para promover ataques terroristas, gerou um novo capítulo na inédita crise entre Minsk e Moscou. Minsk diz que paramilitares russos planejavam ataques terroristas antes de eleições no país. A oposição acusa presidente Lukashenko de fabricar a ameaça para aumentar o seu apoio entre eleitores.
Os tradicionais aliados já estavam envolvidos em uma disputa envolvendo contratos para o fornecimento de recursos energéticos para o regime do presidente Alexander Lukashenko, considerado no Ocidente como "o último ditador da Europa", que concorre à reeleição após mais de 25 anos no poder.
Na sexta-feira, 31, autoridades de segurança da Bielo-Rússia anunciaram a prisão do grupo de supostos mercenários sob a acusação de que estariam planejando ataques terroristas no país durante a campanha eleitoral. A Rússia negou as acusações.
Membros da oposição e observadores independentes afirmam se tratar de uma encenação promovida pela campanha de Lukashenko, que concorre a um sexto mandato nas eleições no dia 9 de agosto.
O Comitê de Segurança de Estado, ainda conhecido pelo acrônimo KGB da era soviética, afirmou que foram presos 32 membros da empresa paramilitar russa Wagner em uma hospedaria nos arredores de Minsk. Outra pessoa do grupo teria sido detida no sul do país.
O secretário do Conselho de Segurança da Bielo-Rússia, Andrei Ravkov, informou que os russos foram formalmente acusados de planejar ataques terroristas e disse que as autoridades ainda procuram outros 200 militantes que estariam no país.
O caso gerou um agravamento sem precedentes nas relações entre os dois países vizinhos. Em Moscou, o Kremlin negou as acusações, pediu que o governo em Minsk explique suas ações e respeite os direitos dos russos sob custódia. As autoridades russas confirmaram que os homens são funcionários da empresa privada de segurança, mas disse que estariam na Bielo-Rússia após perderem a conexão de seu voo para Istambul no aeroporto de Minsk.
"Não há informações sobre nenhuma violação cometida pelos russos que possa justificar a detenção", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Ele disse que as suspeitas de que russos estariam envolvidos em uma tentativa de desestabilizar o país vizinho seriam "meras insinuações".
Entretanto, o chefe do grupo de investigadores que avalia o caso, Alexander Agafonov, assegurou que o grupo não tinha planos de seguir viagem até a Turquia e afirmou que obteve "relatos contraditórios" sobre o motivo de sua estada na Bielo-Rússia. Ele disse que passagens para Istambul teriam sido compradas apenas para servir como álibis.
As autoridades da Bielo-Rússia avaliam se o blogueiro oposicionista Sergei Tikhanovsky, marido da candidata de oposição à presidência Svetlana Tikhanovskaya, poderia ter ligação com o grupo. Foi aberta uma investigação criminal em razão da suspeita de que ele estaria por trás de protestos realizados contra o governo. Tikhanovsky está detido desde o mês de maio acusado de agredir um policial. Sua esposa rejeitou as novas acusações contra seu marido, que classificou de "ilegais".
Acirramento das tensões entre Minsk e Moscou
Após ser convocado para prestar esclarecimentos no Ministério do Exterior, o embaixador russo Dmitry Mezentsev afirmou que as acusações contra os paramilitares são infundadas. Ele corroborou a versão de que os russos faziam uma escala em suas viagens e se abrigaram na hospedaria próxima a Minsk após perderem a conexão de seu voo. O embaixador exigiu a apresentação das provas contra os acusados.
A empresa de segurança russa Wagner já teria enviado centenas de mercenários para atuar em conflitos no leste da Ucrânia, na Síria e na Líbia. Segundo observadores, a Bielo-Rússia é usada como um local de trânsito para diversas operações russas no exterior.
Em plena campanha eleitoral, Lukashenko vem enfrentando uma onda de protestos após governar o país com mão de ferro por mais de duas décadas. A insatisfação aumentou com a crise econômica, agravada pela pandemia de covid-19. Analistas afirmam que a prisão dos supostos terroristas russos seria uma tentativa de o presidente de mobilizar os eleitores a seu favor.
Em 26 anos no poder, Lukashenko se beneficiou do baixo custo da energia fornecida pela Rússia e dos empréstimos financeiros de Moscou que ajudaram a evitar um colapso econômico. Um acordo entre Minsk e Moscou fortalece os laços políticos, militares e econômicos entre os dois países.
Recentemente, porém, o governo russo decidiu cortar alguns subsídios, afirmando que a Bielo-Rússia deve aceitar uma integração ainda maior com o Kremlin para que possa receber os recursos energéticos a preços reduzidos. Lukashenko criticou a decisão de Moscou e acusou o Kremlin de minar a independência do país, conquistada após o fim do regime soviético. (Com agências internacionais)