O Itaú Unibanco espera que suas despesas com provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, estabilizem-se no primeiro semestre, assim como a inadimplência considerando os atrasos acima de 90 dias, de acordo com o vice-presidente executivo da instituição, Eduardo Mazzilli de Vassimon. “Esperamos algum crescimento das provisões, mas estabilização no primeiro semestre do ano que vem”, afirmou em teleconferência com analistas e investidores, na manhã desta quarta-feira, 3, ressaltando que a transferência de provisões é avaliada de forma dinâmica.
Para 2017, é possível, conforme o executivo, que as despesas com PDDs do banco fiquem estáveis. “Vamos fazer nosso orçamento para 2017 nos próximos meses, mas o cenário mais provável é de consolidação da estabilidade política e avanços da política econômica, particularmente em relação a aspectos fiscais, para que a economia volte a crescer no ano que vem. Nós esperamos crescimento de 1%. Dentro deste cenário mais construtivo, não nos surpreenderemos se não houver crescimento de provisão. É mais compatível com esse cenário”, analisou Vassimon.
As despesas com provisões para devedores duvidosos do Itaú encerraram junho em R$ 6,337 bilhões, cifra 19,0% menor em relação a março, quando ficaram em R$ 7,824 bilhões. Em um ano, quando somaram R$ 5,768 bilhões, aumentaram 9,9%. No semestre, esses gastos foram a R$ 11,482 bilhões, alta de 23,3% em relação há um ano.
A expectativa do Itaú, conforme Vassimon, é de que o banco feche 2016 no ponto médio do guidance para despesas com provisões. A instituição espera que esses gastos fiquem entre R$ 21,0 bilhões e R$ 24,0 bilhões neste ano, considerando a operação Brasil. No consolidado, o banco revisou sua projeção e espera que as despesas com PDDs fiquem entre R$ 23 bilhões e R$ 26 bilhões, e não mais de R$ 22 bilhões a R$ 25 bilhões.
Marcelo Kopel, diretor de Relações com Investidores do Itaú, acrescentou que o índice de cobertura do Itaú Unibanco deve cair já no próximo trimestre, na medida em que créditos já provisionados se materializem, migrando da inadimplência de curto prazo para o de longo (acima de 90 dias).
Um deles foi um caso específico que o Itaú não deu detalhes nem do cliente nem do segmento. Segundo a instituição, o saldo deste crédito já foi 100% provisionado. Mas o banco tinha a segunda maior exposição entre os grandes bancos à Sete Brasil, que entrou com pedido de recuperação judicial, conforme documento obtido pelo Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado), com um total de quase US$ 563 milhões (R$ 1,982 bilhão).
Crédito a veículos
O Itaú Unibanco não espera que sua carteira de crédito a veículos cresça de forma relevante neste nem no próximo ano, segundo Vassimon. Questionado sobre o apetite do banco no segmento, ele citou a difícil situação do segmento que enfrenta quedas nas vendas em meio à crise político e econômica do País.
“Estamos confortáveis com o nosso desempenho. Não vemos essa carteira crescendo de forma relevante neste e no próximo ano, mas estamos otimistas e temos uma posição privilegiada para quando a demanda voltar a crescer”, disse Vassimon, em teleconferência.
O Itaú reduziu nos últimos anos seu apetite no segmento de crédito a veículos, à medida que passou a focar em linhas de menor risco, como consignado e imobiliário. No geral, os bancos também ficaram mais restritivos de emprestar para a compra de veículos após a crise de inadimplência gerada com os empréstimos sem entrada e de prazos longos entre os anos de 2010 e 2011. Com consequência do seu menor apetite, a participação desta área nos empréstimos totais do Itaú no País diminuiu de 17,1% em 2012 para 4,6% ao final de junho último.
Recovery
A transferência de R$ 5 bilhões que o Itaú Unibanco fez no segundo trimestre para a Recovery faz parte da estratégia da instituição de reforçar a sua área de recuperação de créditos vencidos, conforme Vassimon. “Esperamos taxa de sucesso de recuperação de crédito com a Recovery superior a que tínhamos com os nossos esforços internos”, disse.
Ele admitiu, porém, que é difícil mensurar quanto isso representaria em números. Afirmou ainda que a atividade, de recuperação de crédito vencido vai crescer de “forma substancial” nos próximos trimestres, via carteiras próprias do banco ou de terceiros.
Vassimon acrescentou ainda que os R$ 5 bilhões transferidos à Recovery e ainda os cerca de R$ 380 milhões que o banco vendeu no segundo trimestre já estavam baixados em prejuízo e, por isso, não têm impacto no resultado do banco.
A Recovery, que nasceu na Argentina nos anos 2000, foi adquirida pelo Itaú por cerca de R$ 1,2 bilhão e com em torno de R$ 40 bilhões em créditos em meio à crise que o BTG Pactual enfrentou no final do ano passado, após a prisão do seu então CEO, André Esteves.
Rede
A Rede, do Itaú Unibanco, não vai competir em preço e está focada em rentabilidade, segundo Marcelo Kopel, diretor de Relações com Investidores do banco Itaú. “Estamos atentos ao nosso tamanho, mas nosso foco continua sendo rentabilidade. Nós não vamos competir através de preço, mas com oferta de produtos e serviços”, afirmou ele, em teleconferência com analistas e investidores.
Kopel admitiu que o mercado de adquirência enfrente maior competição e que isso está em linha com o desejo do regulador, o Banco Central.
O executivo disse que a estratégia do banco em adquirência é a oferta de produtos e serviços. Como exemplo citou o lançamento do “Preço Único”, antecipado pelo Broadcast no mês passado. O produto consolida o aluguel de suas maquininhas de cartões (POS, na sigla em inglês) e também as taxas de desconto (MDR, na sigla em inglês) em uma mensalidade única.
A Rede capturou R$ 93,4 bilhões no segundo trimestre, aumento de 0,5% em relação aos três meses anteriores e 0,1% menor no comparativo anual. A base de equipamentos totalizou 1,680 milhão de unidades, com reduções de 4,3% em relação ao trimestre anterior e de 9,6% em relação ao segundo trimestre de 2015.
Já a Cielo capturou R$ 142,583 bilhões em transações de cartões de crédito e débito em suas máquinas no segundo trimestre, elevação de 2,2% e 9,9%, respectivamente. O Santander, por meio da GetNet, registrou volume financeiro de R$ 24,537 bilhões no segundo trimestre, aumento de 27,8% em 12 meses.