Em busca de uma aproximação com o mercado, o candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, traçou uma estratégia para a recuperação do setor industrial que prevê “manter preços macroeconômicos, como juros e câmbio, em patamares competitivos e estáveis, possibilitando o planejamento empresarial”, respondeu a equipe do candidato à reportagem.
O jornal O Estado de S. Paulo enviou as mesmas perguntas à campanha do candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Elas não foram respondidas até a publicação deste texto. O programa do candidato não menciona uma estratégia específica para a recuperação da indústria. O candidato já anunciou que, se eleito, fundirá a pasta da Indústria e Comércio Exterior ao superministério da Economia, comandado por Paulo Guedes. A proposta foi criticada na terça-feira, 9, pelo presidente da Anfavea, Antonio Megale.
No caso de Haddad, o novo foco, anunciado pela sua equipe, é diferente do que consta no próprio programa de governo, elaborado quando Luiz Inácio Lula da Silva ainda era o candidato. O programa fala em um plano de “reindustrialização” e explica que a estratégia começaria com um forte aumento na taxa de investimento. “Para tanto, o setor produtivo estatal deverá ser reconfigurado para fortalecer setores industriais estratégicos”, diz o documento. “Assim como os bancos públicos deverão assumir papel importante no padrão de financiamento da reindustrialização.” Esses pontos do programa “original” não foram repetidos agora pela equipe de Haddad, mesmo porque não deram certo no governo Dilma Rousseff.
A equipe do candidato petista, no entanto, mantém na recuperação do mercado consumidor interno um pilar da retomada da atividade econômica. “Em segundo lugar, é fundamental retomar o dinamismo do mercado consumidor interno, através do aumento da renda, da retomada do emprego e do crédito”, informa.
Um terceiro pilar da recuperação industrial é a intensificação do comércio com parceiros internacionais, principalmente os que compram produtos manufaturados, como o latino-americano.
O programa passa ainda por medidas que aumentem a competitividade da indústria nacional, como a reforma tributária “que desonere a produção” e a redução da burocracia que dificulta a vida das empresas.
Questionada especificamente se a política industrial lançaria mão de subsídios com recursos federais, a campanha não respondeu. Tampouco citou setores a serem priorizados numa eventual política industrial, mas disse que eles deverão ter como objetivos: o desenvolvimento tecnológico, a transição ecológica, a geração de empregos, a melhoria da qualidade de vida e da distribuição de renda, além da obtenção de divisas estrangeiras. Esses critérios deverão ser aplicados inclusive à indústria automobilística.
Comércio exterior
Em relação a acordos internacionais de comércio, os dois afirmam que é preciso abrir mais o mercado brasileiro, reduzindo tarifas de importação e adotando medidas para facilitar o comércio. Eles, porém, divergem na estratégia para isso.
O programa de Bolsonaro prega a redução de “muitas alíquotas de importação e barreiras não tarifárias” como forma de promover o crescimento econômico de longo prazo. “O Brasil é um dos países menos abertos ao comércio internacional, a consequência disso é nossa dificuldade em competirmos em segmentos de alta tecnologia.”
Já na equipe de Haddad a visão é contrária a uma “abertura indiscriminada”, em que as tarifas de importação sejam reduzidas “sem receber nada em troca, o que enfraquece ainda mais nossa indústria”, segundo respostas enviadas pela equipe do candidato.
As estratégias são contrárias também na busca de acordos comerciais. Para a equipe de Bolsonaro, eles devem ser bilaterais. Já na equipe do PT a orientação é dar ênfase ao multilateralismo e aos acordos regionais.
Em sabatina na Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizada em julho, Bolsonaro afirmou que o Mercosul havia sido bom em sua concepção, mas que com o tempo “passou a ser arma que integra ao bolivarianismo o Brasil”.
Haddad quer ampliar a participação brasileira em organismos multilaterais e fortalecer elos com parceiros históricos, além de buscar mercados na África e no Oriente Médio.
O programa do PSL fala em buscar parcerias com países que possam agregar “valor econômico e tecnológico” ao Brasil. “Deixaremos de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália”, diz o documento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.