“A sensação é que, quando a pessoa é internada com Covid-19, está internando pra morrer”. A frase é de Amélia Renata Domene. A fisioterapeuta até teve o coronavírus, mas a declaração ao GuarulhosWeb foi em referência ao pai, Severino Luciano Dias, internado desde o dia 10 de agosto. Apesar da impossibilidade de encontro físico, uma atitude do Hospital Oito de Dezembro amenizou a dor da saudade.
A unidade de saúde da Unimed em Guarulhos disponibilizou um sistema que permite “visitas virtuais”. Ou seja, pessoas internadas, com ou sem o vírus, podem ver e conversar com a família, mesmo na UTI. Claro que as ligações dependem do estado de saúde e as limitações apresentadas pelo paciente. Contudo, a nova medida tem dado conforto às famílias em momentos de dificuldade.
Amélia conta que as ligações serviram, por exemplo, para tranquilizar sua mãe que, sentindo a ausência do marido, não se sentia confiante em relação às notícias recebidas. “Quando passam o boletim pra gente, mesmo que a médica informe que ele tá bem, é diferente de você ver. Minha mãe só chorava e, quando o o viu pela primeira vez, por chamada de vídeo, se acalmou. Ela soube que, dentro do possível, ele está bem e que ninguém está escondendo nada. Independente do covid, a chamada tem que continuar pra esses pacientes conscientes. Essa atitude é maravilhosa”, afirma a filha de Severino, que não precisou ser hospitalizada quando contraiu o vírus.
Severino se sentiu mal na segunda-feira, 9 de agosto. No dia seguinte, procurou o recurso próprio da Unimed. Para Amélia, a internação não foi o pior momento enfrentado desde então. “Meu irmão ficou internado primeiro, duas semanas antes do meu pai. Quando ele ficou internado foi pior, porque foi o primeiro. Porém, quando meu pai avisou que ia pra UTI, foi o choque, porque você pensa sempre o pior e imagina que a pessoa vai entubar ou morrer”, reitera.
A reportagem também conversou com Severino. O diálogo foi rápido, tendo em vista que o arquiteto de 62 anos está na UTI de um hospital. Ele explica que a doença mexe com o psicológico e que as ligações têm ajudado a superar dificuldades. “A gente vê a vida de outra forma. É muito difícil. Agora a gente tem, uma vez por dia, a chamada de vídeo pra matar a saudade. É pouco tempo, mas humaniza e ameniza”, afirma o paciente.
Questionado sobre algo que está fazendo falta durante o período internado, ele foi mais uma vez preciso: “saudade de casa e da família”. Apesar de não ter previsão de alta, Severino está bem. Amélia, por outro lado, não vê a hora de realizar um ato de carinho que ficou para trás no último encontro com o pai. “No Dia dos Pais, a gente se viu e eu não lhe abracei porque tive medo de alguém ter contraído a doença. Eu só quero abraçá-lo”, conclui emocionada.