Na corrida para marcar território, algumas construtoras querem assumir o papel das gigantes do setor como investidoras de infraestrutura. Além de ficar à frente das obras, elas estão de olho nos leilões de concessão de rodovias, aeroportos e portos e nas Parcerias Público-Privadas (PPPs) de saneamento básico.
Para isso, no entanto, ajustes terão de ser feitos pelo governo para facilitar a entrada de empresas menores. Primeiro, será necessário diminuir o tamanho dos projetos, fatiando a concessão de uma rodovia, por exemplo, de forma a caber no caixa das construtoras médias, afirma o sócio da consultoria KPMG, Mauricio Endo. Nesse cenário, diz ele, concessões mais simples, como rodovias e aeroportos têm mais chances de dar certo com grupos menores do que projetos de metrô, por exemplo.
“Temos competência, mas não temos tamanho para investimentos muito grande nos moldes atuais”, afirma Bruno Sena, presidente da empresa de participações e investimentos da construtora Barbosa Mello. Em 2013, antes da Operação Lava Jato, a empreiteira apostou na criação de uma unidade para disputar concessões e PPPs.
O primeiro contrato foi conquistado no ano passado com a prefeitura de Belo Horizonte. Nos próximos 20 anos, a empresa – em consócio com outras companhias – vai fazer a manutenção da rede de iluminação pública da capital mineira, com investimentos de R$ 500 milhões. A companhia também está de olho nas oportunidades na área de rodovias, aeroportos, portos e saneamento – considerado um dos maiores gargalos do País. “O mercado vive de altos e baixos. E, nesses momentos de vacas magras, empresas conservadoras como a Barbosa Mello podem sair na frente”, diz Sena.
Apesar do interesse, os empresários reclamam que há pouca clareza de como será conduzido o programa de investimento do governo federal. Além disso, falta crédito para todo o setor – não só para empreiteiras envolvidas na Lava Jato. “Não acredito em nada que não tenha um bom planejamento”, afirma o diretor da Toniolo, Busnello, Humberto Cesar Busnello. No passado, a empresa já participou de concessões rodoviárias em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Companhias estrangeiras têm sondado a empreiteira para fechar parcerias em futuras licitações. Por enquanto, tudo está em fase de conversas. “Só teremos condições de fazer uma análise mais aprofundada quando os editais forem publicados. Aí saberemos se haverá condições de competição.”
Foco
Algumas construtoras, porém, não querem extrapolar suas atividades e mantém o foco na expansão da carteira de obras. “Nosso negócio é construção”, diz Jaime Juraszek, da SA Paulista, especializada em obras públicas. A empreiteira é a terceira que mais recebeu dinheiro da União neste ano nas obras de rodovias e ferrovias.
Ao contrário da SA Paulista, o DNA da alemã Hochtief não inclui obras públicas. Desde a chegada ao Brasil na década de 60, no milagre econômico, a construtora se concentrou no setor privado. Teve muitos altos e baixos e, em 2009, quase deixou o País por causa da forte concentração do setor. Mas a empresa soube esperar o momento certo para ganhar espaço.
No ano passado, com a ausência das grandes empreiteiras, ela conquistou obras que somaram R$ 1,3 bilhão e virou a 14ª maior do País, diz o presidente da companhia, Detlef Dralle. “O ano de 2015 foi o melhor da nossa história.” Na opinião dele, o Brasil terá de conviver com as empresas menores para levar adiante os investimentos. Mas a escalada das pequenas e médias construtoras tem limitações. Obras de maior porte exigem habilitações que empresas menores não têm, diz o sócio da BMA, Eduardo Carvalhaes. Nesse caso, uma opção também é o fatiamento do projeto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.