Ibovespa cai, apesar de otimismo com agenda de reformas e exterior

Sensação de alívio no risco político e o reforço na percepção de retomada da economia mundial permitiram abertura em alta do Ibovespa, após iniciar setembro com ganhos de 2,82%, aos 102.167,65 pontos. No entanto, diante da cautela relacionada às questões fiscais, o investidor opta por realizar lucros, e o índice migrou para o campo negativo. Às 11h14, recuava 0,47%, aos 101.692,36 pontos.

"Parece que as coisas no Brasil estão andando. Por ora, vejo o movimento mais como uma realização. Não muda nada", diz um operador, ao referir-se aos ganhos na B3 na terça-feira.

Nesta quarta-feira, 2, o Credit Default Swap (CDS) do Brasil, termômetro do risco-país ampliou o ritmo de queda. O CDS do Brasil caiu abaixo de 200 pontos pela primeira vez desde 10 de março, a 197 pontos.

Em Nova York, os índices também perderam força, após o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo afirmar que a China é o maior violador de leis nas águas internacionais, reforçando cautela nas relações sino-americanas.

No Brasil, depois do ânimo com a notícia de que a proposta de reforma administrativa será enviada ao Congresso amanhã, a Câmara aprovou ontem o marco do gás, que promete destravar investimentos da ordem de R$ 43 bilhões no País. Além disso, aprovou a MP 963, editada em maio deste ano, que abre crédito extraordinário de R$ 5 bilhões para o financiamento da infraestrutura turística do País.

"A aprovação do marco do gás e do pacote de turismo mostra que o governo está conseguindo voltar a conversar e ter uma interlocução razoável com o Legislativo, para não termos repetições de cenas como as recentes, nas quais houve derrubada de veto aqui e ali. É sempre bom evitar isso, para não minar a confiança", avalia o estrategista chefe da Davos Investimentos, Mauro Morelli

O envio da proposta de reforma administrativa é visto como uma maneira de conter as pressões contra o teto de gastos e, consequentemente, o ministro da Economia, Paulo Guedes. A reforma é relevante pois ao longo dos próximos anos um elevado contingente de servidores se aposentará e o governo poderá contratar seus substitutos sob o novo regime, explica em nota a MCM Consultores.

A despesa com pessoal é a segunda maior do Orçamento, atrás apenas da Previdência, que já teve uma reforma aprovada no ano passado. Em 2021, o governo federal deve gastar R$ 337,345 bilhões com salários e outros benefícios aos servidores.

Além dessa dúvida, se de fato o governo conseguirá mexer nas regras do funcionalismo, nos salários de novos servidores, seguem dúvidas em relação ao Renda Brasil, como o governo conseguirá recursos para bancar o programa sem comprometer o teto de gastos.

A despeito do resultado menor que o esperado na pesquisa ADP nos Estados Unidos, o investidor mantém o otimismo visto ontem nos mercados, que levou a novo recorde do Nasdaq e do S&P 500. Em agosto, houve criação de 428 mil empregos no setor privado dos EUA. O número ficou bem abaixo da expectativa de analistas, de geração de 1,17 milhão de postos de trabalho no último mês.

Hoje, o índice das ações de tecnologia voltou a brilhar, ao ultrapassar o nível inédito de 12 mil pontos na abertura, a 12.050,46 pontos. Isso após dados chineses e norte-americanos reforçarem que a retomada está acontecendo de forma mais veloz.

"Os mercados estão esperançosos em relação ao crescimento mundial. Se por um lado um dado desse vem menor do que o previsto, tende a impulsionar mais os governos a darem novos suportes, estímulos para a retomada. São notícias ruins que acabam sendo boas", avalia Morelli.

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