Regina Casé vive mulher forte em Três Verões, que chega ao drive-in

Mais uma doméstica? Regina Casé não perde a cabeça e mantém o bom humor. Depois da Val de Que Horas Ela Volta? e da Lourdes na novela Amor de Mãe, ela volta ao cinema como a Madá de Três Verões. O longa de Sandra Kogut terá sessões no Drive-in Belas Artes do Memorial no sábado e no domingo. Dia 16, entra no streaming do Telecine e no Now, Vivo Play e Oi Play. "Me aguardem que eu vou fazer uma madame", brinca. "Existem atrizes que passam a vida fazendo mulheres ricas e todo mundo acha natural. É mais uma discriminação contra as mulheres pobres. Tem gente que acha que são todas iguais, mas não. A Darlene de Eu Tu Eles, a Val, a Lourdes, a Madá, cada uma tem uma história. A Madá é uma empreendedora. E, na geografia da casa de Três Verões, se ela fica na cozinha, é numa posição muito particular. Madá é empregada dos patrões e patroa dos demais empregados da casa."

Regina conversa com a reportagem do <b>Estadão</b> de dentro do carro que a leva para as gravações de Amor de Mãe. A Globo recomeçou, com um severo protocolo de segurança, as gravações da novela de Manuela Dias. José Luiz Villamarim, o diretor- geral, queria fazer história – uma novela inteira como cinema.

Por conta da pandemia, e do isolamento social, as gravações foram interrompidas. "Por essa época, a novela já estaria terminada. Faltavam 58 capítulos quando paramos. Foram condensados e agora serão 25. Por medida de segurança, a gravação ficou mais lenta. Um capítulo por semana. Tem de ser tudo higienizado, tem a máscara. A novela está incorporando o momento que vivemos."

Como atriz e apresentadora, Regina sempre colocou a cara do Brasil na tela. O repórter pergunta pelo marido, Estevão Ciavatta, que fez um documentário produzido por Walter Salles – Amazônia S.A. -, disponível na Globoplay. "O Estevão está aqui comigo, no carro. O documentário é um trabalho de cinco anos dele. Começou sobre desmatamento, grilagem e virou um filme sobre os guardiões da floresta. Os indígenas são os zeladores desse patrimônio da humanidade que é a Amazônia."

Atriz, apresentadora. Não: "Quando me registro num hotel nunca ponho apresentadora. Minha profissão é atriz." A volta ao cinema tem sido gratificante. Lá atrás, nos anos 1970, Regina participou de um clássico – Tudo Bem, de Arnaldo Jabor. Nos 80, foi uma das filhas de Lima Duarte em Os Sete Gatinhos, que Neville DAlmeida adaptou de Nelson Rodrigues. Já em 2000, criou a Darlene, com três maridos, em Eu Tu Eles, de Andrucha Waddington.

Tudo Bem, com toda aquela família trancada num apartamento em reforma, falava da ditadura, e agora pode ser visto como se fosse sobre o isolamento. O cinema voltou com força na vida dela, e junto veio a novela. "Nas redes sociais, recebi muitas mensagens de carinho do público que via Amor de Mãe e está ansioso pela volta da novela." Conta que, no início, teve um estranhamento. "É muito texto que a gente tem de memorizar. Não estava mais acostumada. Voltei como principiante. Adriana (Esteves) e Taís (Araújo) me acolheram como veteranas que são. Me deram dicas, senti-me em casa." O tema do amor de mãe mexeu com ela. "Já tinha a Benedita, que é adulta e me deu um neto. E tive o Roque. São as minhas crianças." Nesse Brasil da pandemia, com números superlativos – de infectados e mortos -, a atriz entende o desespero de quem busca atendimento, o auxílio emergencial. "É muita desigualdade. A gente não pode é desanimar. Busco sempre uma luz."

Admite que anda numa disciplina insana, gravando das 13h às 21h. No fim da noite, revisa as falas do dia seguinte. Leitura, só de histórias infantis para os meninos. "Agora chega, vamos falar do filme, senão a Sandra me mata." Há 25 anos – em 1995 -, Regina havia feito um curta com a diretora Sandra Kogut. Queriam trabalhar juntas de novo. E aí a Sandra veio com o roteiro de Três Verões. Uma casa num condomínio de luxo, no litoral do Rio.

A mesma semana, entre o Natal e o Ano Novo, em três diferentes verões – 2015, 16 e 17. A casa espelha as mudanças do Brasil em tempos de Lava Jato, de impeachment. No primeiro verão, a casa está cheia – de gente e objetos que espelham o poder econômico. Nos verões seguintes, a casa vai-se desnudando. Num passeio de lancha, Madá observa que todas as casas estão assim, depenadas. Os donos estão sendo investigados. Fogem ou são presos.

Rogério Fróes, que faz o patriarca, está preso no quarto, doente. Suas cenas com Regina são gloriosas. "O Rogério é uma maravilha." Madá é igual a Val, a Lourdes? "Não, todas são pobres mas têm a sua identidade. Viajando pelo Brasil, conheci todas essas mulheres. São nosso povo. A Madá é uma empreendedora. Tem consciência das transformações e quer abrir o próprio negócio." O Brasil reflete-se na casa, que termina vazia, mas o processo – a transformação – quem documenta é a TV, que está sempre ligada no noticiário. A TV é personagem. "Foi ideia da Sandra. Tinha até mais coisas na TV, mas a Sandra cortou para deixar o filme mais enxuto."

Pela Madá, Regina foi melhor atriz no Festival do Rio do ano passado. Subiu ao palco com o filho, que comemorou, como se fosse dele, a vitória da mãe. Regina segue as gravações da novela. Um novo programa está temporariamente adiado. Nesse momento, ela só quer interpretar – dar sua cara às mulheres guerreiras do Brasil.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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