A multinacional franco-suíça comunicou à filial brasileira, no início desta semana, que vai vender suas operações locais, apurou o <b>Estadão</b>. Caso seja concretizado, o negócio provocará uma mudança grande no setor, já que a LafargeHolcim é a terceira maior produtora do País, atrás de Votorantim e Intercement, em termos de capacidade instalada, segundo dados de 2017. O banco Itaú BBA foi contratado para conduzir o processo de venda.
De acordo com uma fonte, a saída da empresa do Brasil, entretanto, pode não ser fácil, por duas razões. A primeira é que o setor é muito concentrado, o que pode levar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a barrar o negócio, caso seja fechado com alguma concorrente de grande porte. A segunda é que empresas menores, sem impedimentos concorrenciais, não teriam fôlego financeiro para a aquisição.
A LafargeHolcim é um grupo global do setor de materiais de construção, que tem aproximadamente 70 mil funcionários em cerca de 70 países. No Brasil, são hoje cerca de 1,4 mil trabalhadores, com operações de cimento, concreto e agregados, além de área administrativa. O grupo é líder global, e a fusão entre a Lafarge e a Holcim ocorreu em 2014.
A venda das operações locais nos planos da LafargeHolcim não foi o primeiro passo da gigante global para reduzir sua exposição ao mercado brasileiro. Em 2015, o grupo franco-suíço vendeu ativos avaliados em cerca de US$ 350 milhões para o grupo irlandês CRH – o que diminuiu consideravelmente seu porte no Brasil.
À época, o pacote de venda incluiu três fábricas de cimento (Matozinhos e Arcos Jazida, da Lafarge, e Cantagalo, da Holcim), duas estações de moagem (Arcos Cidade e Santa Luzia, da Lafarge) e uma indústria de mistura pronta de cimento (Pouso Alegre, da Holcim). Para concretizar o negócio e evitar problemas com autoridades de concorrência, as gigantes venderam mais de US$ 7 bilhões em ativos em todo o mundo, há cerca de seis anos.
No fim de 2020, a irlandesa CRH vendeu os ativos que antes pertenciam à LafargeHolcim à Companhia Nacional do Cimento (CNC), parceria entre o grupo italiano Buzzi e o brasileiro Brennand. O valor do negócio foi de US$ 218 milhões.
A saída do grupo acontecerá apesar de o mercado de construção civil viver um momento positivo no Brasil. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), a produção do material teve alta de 19% de janeiro a março de 2021, para 15,3 milhões de toneladas, na comparação com igual período do ano anterior. No pré-pandemia, a produção havia sido prejudicada por um período de fortes chuvas. Em março, a alta foi de 34,6% ante 2020, para 5,5 milhões de toneladas.
O mais recente relatório do SNIC afirma que, apesar de haver algumas boas notícias no horizonte – como as concessões de infraestrutura, que ajudam a acelerar o consumo de cimento -, também há sinais negativos para a economia, como a distribuição de um auxílio emergencial mais "magro" e uma taxa de desemprego elevada, acima de 14%. As vendas de imóveis, porém, continuam fortes, impulsionadas pela taxa básica de juros de um dígito.
Caso seja confirmada a saída, a LafargeHolcim se juntará ao grupo de multinacionais que anunciaram o fechamento de fábricas no Brasil este ano. Em janeiro, a Ford informou que encerraria sua produção no País, após mais de cem anos de funcionamento e com a demissão de 5 mil pessoas. Em março, foi a vez de a japonesa Sony fechar sua fábrica na Zona Franca de Manaus, após 48 anos.
Procurada, a assessoria de imprensa da LafargeHolcim não comentou.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>