O aumento de 1,3% na população inativa no trimestre encerrado em agosto ante o mesmo trimestre de 2015 pode estar ligado ao avanço no desalento, pessoas que deixam de procurar emprego porque acreditam que não conseguiriam uma vaga. A hipótese foi levantada por Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No período de um ano, 809 mil pessoas deixaram a força de trabalho, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).”O quadro que pode estar levando a isso é o aumento do desalento, mas a gente não tem certeza”, ponderou Azeredo.
O IBGE passará a divulgar as medidas de subutilização da mão de obra a partir de outubro, com dados sobre desalento e insuficiência de horas trabalhadas, medidos pela Pnad Contínua. A primeira divulgação será no próximo dia 13. “São medidas que complementam a taxa de desocupação”, explicou Azeredo.
Os dados apresentados pelo mercado de trabalho ainda não responderam às expectativas de uma suposta melhora na atividade econômica. Contrariando um efeito sazonal, a taxa de desemprego permaneceu aumentando no trimestre encerrado em agosto, observou Cimar Azeredo.
A taxa de desocupação aumentou de 11,6% no trimestre encerrado em julho para 11,8% no trimestre encerrado em agosto. No mesmo período de 2015, o resultado foi de 8,7%, segundo os dados da Pnad Contínua.
“Existia a expectativa de a pesquisa começar já a apresentar sinais de recuperação”, disse Azeredo. “Se a economia não vai bem, o mercado de trabalho vai responder negativamente”, completou.
Nessa época do ano, a indústria começa as contratações para dar conta de um aumento na produção estimulado pelas encomendas do comércio para as festas de fim do ano. No entanto, o setor permanece demitindo. A taxa de desemprego começou a crescer significativamente desde o fim de 2014 e vem mostrando deterioração contínua desde então. “Somando do momento que começou a crise, em 2014, há dois anos, já são 5,2 milhões de pessoas desocupadas a mais no Brasil”, calculou Azeredo.
Desde que a situação do mercado de trabalho começou a piorar, trabalhadores com carteira assinada que eram demitidos ainda conseguiam se recolocar na informalidade, ou como pequenos empregadores ou como trabalhadores por conta própria.
A taxa de desocupação não aumentava pela redução no total de ocupados, mas sim pelo aumento no número de pessoas em busca de uma vaga. No entanto, nos últimos meses, também houve queda na ocupação, a informalidade deixou de ajudar a evitar uma deterioração maior. Atualmente, há tanto redução no número de ocupados quanto aumento no total de desempregados, explicou Azeredo.
“A informalidade que estava dando conta de segurar esse processo de menos pessoas ocupadas hoje não está dando conta mais”, afirmou o pesquisador.
O total de trabalhadores por conta própria está apenas 0,4% maior do que há um ano, mas já cresceu em ritmo muito superior, lembra Azeredo. Ao mesmo tempo, o total de empregadores diminuiu 2,7% no período.