O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, afirmou nesta sexta-feira, 30, que a empresa olha para 2018 como ponto de virada na companhia, e que, ao longo de 2017, ainda será verificada alguma volatilidade em termos de despesas em função da desmobilização de pessoas. “Mas, em 2018, já deveremos estar no ajuste fino”, disse, durante participação em evento promovido pela Revista Exame, em São Paulo. “Dá para chegar com a empresa muito melhor a partir de 2018.”
Questionado sobre o quadro de funcionários da estatal, Ferreira Junior afirmou que a companhia possui um perfil “muito envelhecido”, informando que 20% do quadro possui mais de 55 anos.
“Não dá para mandar as pessoas embora por baixo desempenho. Tem um jeito de fazer, que é o plano de incentivo à aposentadoria ou o PDV”, afirmou Ferreira Junior. Segundo o executivo, esses planos podem fazer bem para a empresa. “Se fizermos uma reestruturação agora, traremos a empresa para outro patamar.”
Equilíbrio fiscal
O presidente da Eletrobras afirmou que o comportamento da empresa no período de 2012 a 2015 dava a entender que não existia um contexto de crise, frisando que não é aceitável passar por cima do equilíbrio fiscal. “Dá para recuperar, tem que ser recuperado, mas poderia ser mais simples.”
Ferreira Junior ressaltou que a Eletrobras encontra-se numa situação em que está gerando energia e em subcontratação, com outras obras sendo concluídas. “Precisamos do desenvolvimento do País.”
“A disciplina financeira e o equilíbrio fiscal são obrigação de qualquer gestor de ativo público, e não foi respeitada como deveria”, disse o executivo. “As consequências são graves e certamente serão caras.”
Celg-D
O presidente da Eletrobras disse que leilão da Celg-D deve ocorrer entre novembro e dezembro de 2016. O executivo avalia que com a revisão do preço, a concretização da venda é possível. De acordo com ele, o novo valor estabelecido para a Celg-D, de R$ 1,79 bilhão, coloca o negócio em um múltiplo de 2, que ele avalia positivamente os atrativos da distribuidora, como sua taxa de crescimento e área de concessão.
“Nos últimos cinco anos, enquanto o mercado cresceu quase 3%, a companhia cresceu 5,8%, Isso a difere de outras e por isso o múltiplo é ligeiramente superior”, afirmou o executivo, acrescentando a Celg-D é a única “companhia grande à venda”. A distribuidora tem cerca de 3 milhões de clientes.
Petrobras
O presidente da Eletrobras disse esperar conseguir concluir a negociação com a Petrobras a respeito de uma dívida de cerca de R$ 5,5 bilhões ainda este ano.
A dívida foi contraída pelas distribuidoras de energia controladas pela Elebrobras e se refere ao fornecimento de gás e combustíveis da Petrobras e da BR Distribuidora realizado desde dezembro de 2014 até hoje.
Segundo o executivo, as discussões estão ocorrendo entre as equipes das duas empresas e tendem a subir de nível, para que o tema seja apreciado diretamente entre os presidentes. O da Petrobras, Pedro Parente, também esteve no evento em São Paulo, e eles teriam combinado uma conversa.
Conforme Ferreira Junior, a negociação faz parte do movimento da Eletrobras de buscar restabelecer confiança do mercado com a estatal. “Tínhamos muita inadimplência setorial, com os nossos sócios e com alguns fornecedores, entre os quais a Petrobras. É uma orientação de que como parte do trabalho de boa governança, de restabelecimento de credibilidade, fazer um esforço de negociar ou pagar e o próprio governo fez uma capitalização na companhia de maneira que pudesse se encaminhar de algumas delas”, disse a jornalistas.
O executivo disse que parte da inadimplência foi resolvida, como em contratos bilaterais de compra e venda de energia. Já a inadimplência na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) será endereçada agora.
Segundo ele, o esforço é para que a situação da companhia relacionada ao não pagamento de dívidas e deveres esteja resolvida justamente com a definição do Plano de Negócios da companhia, mas Ferreira Jr afirmou que neste momento não é possível garantir que a negociação será concluída até lá. “É um problema que está com prioridade, nós vamos nos esforçar para isso”, disse. O Plano de Negócios deve estar pronto até dia 28 de outubro, quando então deve ser apreciado pelo conselho da estatal.
Formulário
Ferreira Junior destacou que a companhia está na semana final de preparação do formulário 20-F relativo aos anos de 2014 e 2015 e que a expectativa é que a companhia arquive o documento na SEC no dia 11 de outubro, portanto dois dias antes da audiência que a companhia tem marcada em Nova York para tentar reverter o processo de deslitagem de suas ADS, pelo qual está passando desde que deixou de entregar os documentos no prazo.
“A partir do dia 13 podemos ter o resultado do enorme trabalho”, disse o executivo, em referência às investigações que foram feitas pelo escritório americano Hogan Lovells, com apoio de um comitê independente. Segundo ele, o trabalho resultará em um fortalecimento da governança da estatal.
Segundo Ferreira Junior, cerca de um terço do capital da Eletrobras é negociado em Nova York. Com a não entrega do 20-F de 2014 em maio deste ano, as ADSs deixaram de ser negociadas na Nyse e passaram a ser operadas apenas no balcão.
Nível de alavancagem
O presidente da Eletrobras sinalizou que uma taxa de alavancagem de 4 vezes a dívida líquida sobre Ebitda seria um patamar adequado para uma companhia focada em geração e transmissão. De acordo com ele, seria possível chegar a uma alavancagem “ligeiramente inferior” a 4 vezes em um prazo de até dois anos.
O número final deve ser definido ainda este mês, quando a companhia deve concluir a estruturação do novo plano de negócios, que será avaliado pelo conselho de administração em 28 de outubro. Conforme o executivo, a divulgação desse plano deve ser feita juntamente com a publicação dos resultados financeiros do terceiro trimestre de 2016, em 14 de novembro.
Ferreira Junior explicou que a “calibração” de qual a estrutura ótima de capital para a companhia, da maneira como ela deve ficar sem as distribuidoras é primeiro desafio da companhia na definição do plano de negócios, e com base nessa meta, a empresa deve avaliar o quanto de ganhos de eficiência operacional consegue obter, em termos de geração de Ebitda. A partir deste número, a companhia estabelecerá o montante de recursos que deverá obter com desinvestimentos.
“Têm estruturas minoritárias em SPE (Sociedades de Propósito Específico), que estão prontas e operando, que pode fazer sentido desmobilizar”, comentou. Ele disse, porém, que a lista de potenciais ativos a serem vendidos só será definida com base na estrutura ótima sobre capital, a taxa limite de alavancagem e nos ganhos de eficiência.
Ele sinalizou, porém, que a companhia vai priorizar a venda de ativos não operacionais, como imóveis. “Antes de vender ativos operacionais, esses ativos não operacionais, que não fazem sentido hoje para a companhia, devem ser prioridade”, disse, citando que somente no Rio de Janeiro a holding atua em seis prédios e ainda possui um terreno de grande valor. A ideia é concentrar as operações e desmobilizar os imóveis vazios.
Ferreira Junior também comentou que não há neste momento planos de abertura de capital de suas subsidiárias principais, como Furnas, como chegou a circular pela imprensa.
Angra 3
Uma solução para a usina nuclear de Angra 3 deve ser discutida em dezembro, disse o presidente da Eletrobras. De acordo com ele, uma consultoria foi contratada para analisar as alternativas para uma possível retomada das obras.
Além disso, uma comissão da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras responsável pela usina, também discute a questão. “(A comissão) interage semanalmente com financiadores, com o próprio ministério, tem um grupo de trabalho se envolvendo nisso”, disse.