Mesmo com avanço de novos casos de covid-19, áreas de comércio popular em São Paulo registram aglomerações às vésperas do Natal. Por ruas e calçadas, pessoas circulam sem máscara e desrespeitam medidas de distanciamento. Apesar da alta circulação nas vias, lojistas da 25 de Março e do Brás (na área central) afirmam que as vendas ainda estão abaixo da expectativa e cobram fiscalização contra ambulantes.
Com a cidade em fase amarela no plano de combate ao coronavírus, a gestão Bruno Covas (PSDB) diz autuar locais que excedem o horário permitido ou descumprem medidas de segurança. Segundo a Prefeitura, só no último fim de semana, sete estabelecimentos foram interditados na cidade: dois deles na Sé, no centro, quatro em Pinheiros, na zona oeste, e o último em Santo Amaro, na zona sul.
Na região da 25 de Março, no entanto, parece que não existe mais pandemia. Desde a Ladeira Porto Real, centenas de pessoas tomavam a via e passeios nesta segunda-feira, 21, carregando sacolas plásticas ou caixas de papelão com lembrancinhas para a família. Sem guardar a devida distância, vários andam com máscara no queixo. Quando não, no bolso.
Os ambulantes são muitos e colocam seus produtos sobre o asfalto, às vistas de clientes e da Polícia Militar que também circula pelo local. Para gritar melhor, e assim tentar atrair mais compradores, alguns preferem abrir mão das recomendações médicas e manter boca e nariz descobertos.
Quando os vendedores informais tentam armar uma banqueta, os PMs interferem. À tarde, a reportagem flagrou abordagem que impediu um grupo de improvisar uma mesa expositora com papelão.
Há mais gente nas ruas do que nas lojas. Diante do cenário, comerciantes em situação regular culpam os informais por aglomerações e descuidos sanitários. "Só tem camelô nesta porcaria, são os únicos que ganham dinheiro", reclama um lojista.
Gerente da loja Puppets, Valter Vidal afirma ter se preparado para atender até 500 pessoas por dia, mesmo com a alta transmissão do vírus na cidade. "Seguimos todos os protocolos, com álcool em gel e aferição de temperatura na porta", diz. As vendas no comércio, contudo, ficaram aquém do esperado. "A gente até conta o número de pessoas no dedo antes de deixar entrar, mas a verdade é que, com esse movimento, nem precisava", afirma Vidal. "Fazemos uns 200 atendimentos por dia, mais ou menos."
Há bloqueio para veículos entre a Rua Carlos de Souza Nazaré e a Ladeira Porto Geral e o trânsito é monitorado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Também foram feitas restrições de acessos em transversais (Ruas Afonso Kherlakian, Lucrécia Leme e Ladeira da Constituição), além da Porto Geral com a Rua Boa Vista.
<b>Espremidos</b>
Conhecida pelo comércio popular, a região do Brás também têm convivido com cenas de aglomeração nos dias que antecedem as festividades de fim de ano. Nesta tarde de segunda, a sensação era de que havia ainda mais gente do que na 25 de Março.
Conselheiro executivo da Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), Lauro Pimenta diz que a grande quantidade de pessoas nas ruas não tem refletido na venda dos comércios. "Com o empobrecimento das pessoas, este Natal virou de presentinho, de lembrancinha, e não de grandes compras para a família toda", afirma. "Certamente, o faturamento vai ficar abaixo do ano passado. A gente estima uma perda de 10 a 15%."
Na visão de Pimenta, a maioria das lojas tem seguido os protocolos, mas o mesmo não acontece da porta para fora. "Muitos lojistas só permitem entrar de máscara, distribuem álcool em gel, põem fita na porta para evitar aglomeração", diz. "Na rua é que não dá para transitar direito. Há excesso de ambulantes, embora a gente saiba que muitos migraram para informalidade por causa da crise. O que a gente não entende é por que a Prefeitura não cria uma alternativa: dá diretriz a esses comerciantes e garante acessibilidade das pessoas."
Em nota, a gestão Covas afirma que, de janeiro a novembro, foram realizadas mais de 138 mil apreensões nas Subprefeituras Sé e Mooca, responsáveis pela 25 de Março e Brás, respectivamente. "Desde o início da quarentena, 1.311 estabelecimentos foram interditados por descumprirem as regras vigentes, destes, 885 são bares, restaurantes, lanchonetes e cafeterias."
Também diz que, desde o dia 1º de julho, equipes de vigilância em saúde orientam moradores e comércios sobre o correto uso de máscaras e medidas preventivas contra a doença. Segundo a administração municipal, a ação foi feita com mais de 13,8 mil cidadãos e 7,4 mil estabelecimentos em "grandes centros comerciais". "A Prefeitura tem optado por ações educativas,(…) não fazendo desta uma ação punitiva, com multas."
"Os protocolos de reabertura gradual da economia foram firmados em comum acordo com entidades representativas dos setores, que se comprometeram a cumprir as regras e auxiliar na fiscalização por meio de autotutela", diz a nota. "A Prefeitura de São Paulo reforça que a cidade continua em quarentena e todos os protocolos de biossegurança precisam ser respeitados para garantir a saúde e proteção da população."