Economia

Educação financeira infantil: base para a aposentadoria

O momento da aposentadoria é um sonho para muitos brasileiros. E também um grande desafio, principalmente com o aumento da expectativa de vida.

Uma das saídas para buscar um futuro financeiro tranquilo é começar a cultivá-lo desde criança. Especialistas são unânimes em dizer que a formação das crianças e adolescentes em educação financeira é fundamental para formar cidadãos mais conscientes, disciplinados, organizados e com capacidade de planejamento.

 

Na visão do diretor de Gestão da Saraiva Editores, Marcus Mingoni, especialista em educação financeira, quem não planejar seu futuro terá sérias dificuldades em manter o padrão de vida na velhice. Ele lembra que a expectativa de vida do brasileiro passou de 57,6 anos em 1970 para 74,6 em 2013, segundo a Tábua Completa de Mortalidade para o Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – que tem impacto direto na fórmula do fator previdenciário, usado para o cálculo das aposentadorias do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

 

“Tudo leva a crer que, com o passar do tempo, a idade mínima para se aposentar subirá e o valor dos benefícios, cairá. Isso porque o aumento da expectativa de vida se alia à queda da taxa de natalidade, gerando pressões sobre o orçamento do governo. Haverá proporcionalmente cada vez menos trabalhadores na ativa para sustentar os benefícios de um volume crescente de aposentados. Assim é essencial que a pessoa aprenda o quanto antes a se planejar financeiramente”, afirma Mingoni.

 

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, existe ainda uma barreira cultural para o desenvolvimento da educação financeira infantil. “Nossos avós e pais não foram educados financeiramente; essa não é uma cultura de nossa sociedade. Então, é natural que a maioria de nós também não tenhamos essa formação, acabando por não ensinar nossos  filhos. A importância de educar financeiramente as crianças está justamente na ideia de quebrar o ciclo de pessoas analfabetas financeiramente, que só aumentam o índice de endividamento do país”, pontua.

 

O professor e autor de obras em Direito Previdenciário, Marco Aurélio Serau Jr., observa, ainda, que a educação financeira pode evitar a formação de futuros conflitos previdenciários, especialmente a necessidade de entrar com ações judiciais.

 

Cofrinho

 

Os especialistas destacam que o princípio da educação financeira é ensinar a lidar com o dinheiro para que sonhos – pequenos ou grandes – sejam realizados. E uma boa ferramenta para iniciar as crianças no mundo financeiro é o cofrinho.

 

“É preciso mostrar às crianças que o tradicional porquinho não serve somente para colocar moedas, mas também para guardar sonhos. Assim, ela vai entendendo o valor do dinheiro e a relação dele com a realização de seus objetivos. É claro que, após esse contato mais próximo com o dinheiro e com a forma de administrá-lo, fazer uma poupança para os filhos é uma ótima maneira para começar a ensiná-los sobre como utilizar os rendimentos a seu favor”, explica Reinaldo Domingos.

 

Espelho

 

Mesmo após essa iniciação, a continuidade da educação financeira não é fácil. Para começar, é preciso entender que os filhos se espelham nos pais. “O aspecto primordial é o velho e bom exemplo. Ainda não inventaram nada melhor como estratégia de ensino. Se os pais estiverem sempre no “vermelho” com o limite do cheque especial estourado e com dívidas no cartão de crédito, não há como esperar que os filhos desenvolvam uma postura responsável”, aponta Marcus Mingoni.

 

Para o gestor da Saraiva, é essencial que os pais entrem em acordo sobre os objetivos financeiros da família. “É importante envolver os filhos nesse processo, de maneira franca e realista, evidentemente adequando o discurso à idade e à maturidade das crianças. Os limites do orçamento familiar precisam ficar claros e é preciso debate os planos para conquistar os objetivos – a compra de casa própria, troca do carro, formação de poupança para a faculdade dos filhos, viagem, etc. Quando as escolhas são feitas de forma participativa, os projetos ganham sócios comprometidos e evitam-se os desgastes de relacionamento”, orienta Reinaldo Domingos.

 

Hoje há no mercado diversos recursos para auxiliar nesta formação. São palestras, livros e cursos – alguns até online e gratuitos – que orientam a mudança de comportamento em relação ao dinheiro. Outro passo importante é optar por escolas que ofereçam a educação financeira na grade curricular. “As escolas são cada vez mais cobradas para formar alunos-cidadãos, pensantes, críticos e autônomos, e ensinar educação financeira faz parte disso”, observa o presidente da Abefin.

 

Retranca

 

Previdência privada: um bom caminho

 

O novo panorama demográfico no Brasil e o limite dos benefícios da Previdência Social vêm impulsionando as instituições financeiras a criar produtos de previdência privada voltados para público infantil e juvenil.

 

Soraia Fidalgo, gerente de Inteligência e Gestão de Clientes da Brasilprev, observa que é possível começar a contribuir para a previdência privada, em um plano júnior, com R$ 25 mensais. “Os clientes contratam este plano para filhos, sobrinhos e netos, para que eles usufruam da reserva ainda jovens. O maior objetivo são projetos educacionais, como faculdade, curso técnico, curso de idioma e intercâmbio”, diz.

 

A grande diferença desses novos produtos para os planos de previdência privada tradicionais é que eles têm um valor inicial de contribuição menor. A executiva da Brasilprev destaca que qualquer adulto pode contratar um plano de previdência privada para um menor, independentemente do grau de parentesco. “ É possível fazer o plano em nome do responsável financeiro ou em nome do menor. E ao completar 18 anos, o jovem poderá receber a reserva do plano, ainda que sem a autorização do responsável”, afirma.

 

Evely Silveira, gerente comercial da Porto Seguro Previdência, observa que, para o sucesso da previdência privada infantil, é importante ter em mente um investimento de longo prazo. “Os responsáveis devem avaliar as taxas, o período e os valores das contribuições. A opção entre PGBL e VGBL depende basicamente da modalidade de declaração de Imposto de Renda em que os pais ou responsáveis estão enquadrados. Mas atenção porque isso vale somente para o contribuinte que declara o menor como dependente”, explica.

 

A partir dos 16 anos

 

O professor de Direito Previdenciário, Marco Aurélio Serau Jr., destaca, que além da previdência privada, o jovem cidadão não pode descuidar  da Previdência Social, que sempre será sua proteção. “E aí me refiro à aposentadoria e também ao auxílio-doença e à pensão por morte que reverterá para os dependentes”, diz. “Os pais podem começar a recolher a Previdência Social para seus filhos já a partir dos 16 anos, na qualidade de segurados facultativos, o que ajudará em muito o futuro previdenciário da família”, ensina.

 

Maiores de 16 anos podem ser segurados facultativos da Previdência Social desde que não exerçam atividades remuneradas. Para se inscrever, basta acessar o site do Ministério (www.mpas.gov.br) ou procurar qualquer Agência da Previdência Social. Os documentos necessários para a inscrição nas agências são a Carteira de Identidade, a Certidão de Nascimento (para pessoas entre 16 e 18 que ainda não têm Carteira de Identidade) e comprovante de residência (conta de luz ou água). (colaborou Thais Restom)

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