Economia

Chineses vão participar dos leilões de ferrovias

Os chineses vão participar dos leilões de concessão de ferrovias brasileiras por meio de uma cooperação da China Railway Construction Corporation (CRCC) com a construtora Camargo e Corrêa. A empresa brasileira confirmou ontem ao jornal “O Estado de S. Paulo” ter assinado um termo de acordo “para estudos de viabilidade de investimentos no PIL, programa de investimentos em logística, do governo federal”.

A parceria deverá ser o principal saldo do encontro bilateral da presidente Dilma Rousseff com o presidente da China, Xi Jinping. Os dois países deverão assinar um protocolo de intenções de investimentos em infraestrutura. Foram oferecidas aos chineses seis linhas que o governo brasileiro considera estratégicas.

A primeira linha a ser leiloada é uma ligação entre Lucas do Rio Verde (MT) e Campinorte (GO), mas há diversas outras em fase de estudos. Entre elas, algumas que ligam o cerrado brasileiro a portos do Norte, como Sinop (MT) a Miritituba (PA) e Sapezal (MT) a Porto Velho (RO).

“Esse é o grande fato do nosso encontro”, disse o presidente da seção brasileira do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), embaixador Sérgio Amaral, durante evento com empresários dos dois países promovido pela entidade. “Não conversamos mais sobre exportação de commodities ou investimento em infraestrutura, que marcaram o início das nossas relações, mas partimos para outro patamar, que é o de parceria.”

Cooperação

Segundo o embaixador, a diferença agora é que as empresas dos dois países atuarão juntas. Haverá cooperação na construção da linha e no transporte da carga aqui. A associação continuará do outro lado do mundo, pois empresas brasileiras como a BR Foods têm centros de distribuição na China.

Por ligarem áreas produtoras de alimentos aos portos, algumas ferrovias caem como uma luva no interesse estratégico chinês de garantir sua segurança alimentar. Os empreendimento também proporcionarão redução do custo do transporte. Com elas, será possível aos chineses comprar grãos e proteína animal diretamente dos produtores brasileiros, em vez de adquirir esses produtos de tradings, como ocorre hoje. O comércio direto, disse Amaral, foi mencionado pelos negociadores chineses de alto nível como um objetivo. “Eles vão concorrer com as tradings.”

A concessão do trecho Lucas do Rio Verde-Campinorte já está pronta para ir a mercado, segundo informou o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. “Nós o lançaremos quando tivermos convicção que teremos concorrência e interesse do setor privado”, comentou.

Ao Brasil, interessam não só os investimentos diretos chineses, mas também os investimentos financeiros, informou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Pablo Fonseca. Ele explicou aos chineses as facilidades oferecidas pelo Brasil nas debêntures de infraestrutura e nos fundos de private equity. A principal é a isenção do Imposto de Renda para investidores estrangeiros.

Brics

Não é possível prever se o banco do Brics, sacramentado esta semana, terá aplicação prática nas ferrovias. Se o consórcio sino-brasileiro participar e vencer o leilão, o mais provável é que a obra seja financiada por uma parceria entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o banco de desenvolvimento da China. Além disso, três grandes bancos chineses estão se instalando no Brasil, o que garantirá financiamento privado ao empreendimento.

“O timing político é excelente”, comentou Amaral, referindo-se ao esforço de atrair investimentos num momento em que se realiza a reunião de cúpula do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Os países fizeram um comunicado forte e ambicioso, e há determinação política de fazer andar a cooperação.”

Ao contrário de integrantes do setor privado brasileiro, que consideraram o momento pouco adequado para iniciar negociações, uma vez que o governo de Dilma Rousseff está a cinco meses do fim, Amaral acredita que o calendário eleitoral não será um empecilho, pois as conversas deverão seguir sob qualquer administração. “A relação com a China não é uma opção de governo, é quase uma imposição dos fatos.”

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