O Comitê de Política Monetária reafirmou que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. De um lado do balanço, continua o risco da elevada ociosidade da economia produzir "trajetória de inflação abaixo do esperado, notadamente quando essa ociosidade está concentrada no setor de serviços". "Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional", destacou o Copom na ata do encontro, divulgada nesta terça-feira.
Do outro lado do balanço, o BC considera que "o prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco".
"O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária", disse o BC. Estas avaliações já constavam do comunicado da semana passada do Copom e foram reiterados na ata de hoje.
O Copom também afirmou nesta terça-feira, 3, por meio da ata de seu último encontro, que as últimas leituras de inflação foram "acima do esperado". Com isso, o colegiado elevou sua projeção para os meses restantes de 2020.
"Contribuem para essa revisão a continuidade da alta nos preços dos alimentos e de bens industriais, consequência da depreciação persistente do real, da elevação de preço das commodities e dos programas de transferência de renda", registrou a ata. "Por um lado, a normalização parcial dos preços ainda deprimidos deve continuar, em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade."
O BC afirmou ainda que, por outro lado, "espera-se a reversão na elevação extraordinária dos preços de alguns produtos, afetados por redução provisória na oferta em conjunção com um aumento ocasional na demanda". "Dessa forma, apesar de a pressão inflacionária ter sido mais forte que a esperada, o Comitê mantém o diagnóstico de que esse choque é temporário, mas monitora sua evolução com atenção."
Em outro trecho da ata, o BC repetiu que "diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária".
<b>Retomada e cenário internacional</b>
A Ata do último encontro do Copom destacou a avaliação do colegiado de que ainda há bastante incerteza sobre evolução do cenário externo, com a redução de estímulos governamentais e novas medidas de distanciamento social para conter o avanço da pandemia de covid-19.
"Com relação à economia internacional, a recente ressurgência da pandemia e o consequente aumento do afastamento social em algumas das principais economias podem interromper a recuperação da demanda. Uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais também adiciona risco à retomada econômica", destacou o documento.
Ainda assim, o Copom apontou que, por enquanto, a moderação na volatilidade dos ativos financeiros continua resultando em um ambiente relativamente favorável para economias emergentes.
Da mesma forma, o colegiado avaliou que a economia doméstica também deve ter uma recuperação desigual entre os setores, como ocorre em outros países. Apesar do auxílio emergencial, setores mais afetados pelo distanciamento social – como serviços – seguem com atividade deprimida.
"Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", repetiu a ata.
<b>Reformas</b>
O Banco Central reafirmou por meio da ata que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia.
"O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia", registrou a ata.
Estas ideias já haviam sido expressas pelo BC no comunicado do último encontro do Copom, divulgado na quarta-feira passada (28).